Chisinau e Sófia vão a votos... Bucareste transpira. Moscovo sorri!

O domingo ficou marcado por duas eleições Presidenciais com vários pontos em comum: 1.) ambas ocorreram no Leste Europeu; 2.) ambas disputavam a segunda volta; 3.) ambas tinham como oponentes um homem e uma mulher; 4.) ambas discutiam, mais do que outra coisa, esferas de influência para os próximos anos.

Na Moldova, o estado mais pobre do continente Europeu e um dos membros signatários da Parceria de Leste, o candidato pró-Rússia, Igor Dodon (Partido Socialista da Moldova) conseguiu 52.2% superando os pouco mais de 47% de votos que alcançara na primeira volta. Maia Sandu (Partido Acção e Solidariedade) ficou-se pelos 47.8%.

Igor Dodon, que defende uma aproximação da Moldova à Federação da Rússia, conseguiu capitalizar no descontentamento dos eleitores para com os partidos pró-UE. E mesmo o facto de Maia Sandu ser considerada uma política honesta, pelo seu não envolvimento nos múltiplos escândalos político-financeiros que têm agitado a República da Moldova, não chegou para travar Dodon.

A taxa de participação na Moldova ficou ligeiramente acima dos 53%, um valor demasiado baixo para um país que elegia pela primeira vez o Presidente por voto popular directo. Nos últimos 16 anos coube ao Parlamento (instituição dominante no regime parlamentar Moldovar) a função de indigitar o Presidente da República.

Na Bulgária, que aderiu à União Europeia em 2007 juntamente com a Roménia (que vai a votos em Dezembro!), com o escrutínio quase terminado, com 99.3% dos votos contados e validados, a vitória recaiu sobre Rumen Radev, candidato apoiado pelo Partido Socialista da Bulgária. Radev conquistou mais de 59% dos votos (59.4%), contra os 36.2% de Tsetska Tsacheva, candidata do partido no poder (GERB).

Ramen Radev, como Dodon, defende uma linha de aproximação político-diplomática entre Sófia e Moscovo sendo certo que Sófia passará a defender o fim das sanções da UE a Moscovo (vêm aí dias complicados para Juncker&Co.!), será menos aguerrida contra as insurgências no Donbass e poderá mesmo formalizar o reconhecimento da anexação da Crimeia.

Resultado imediato da eleição de Radev foi a queda do governo de coligação suportado pelo GERB, que controla as rédeas do poder em Sófia desde Julho de 2009. Eleições antecipadas não acontecerão antes de Março de 2017, uma vez que o Presidente cessante (Rosen Plevneliev) não tem já poder para dissolver a actual legislatura e Radev só o poderá fazer após tomar o cargo a 22 de Janeiro de 2017. Uma vez dissolvido o Parlamento as eleições terão lugar em 60 dias.

Apesar da corrupção ter sido tema dominante, uma onda de nostalgia pela URSS e uma vontade de aproximação ao gigante a Leste num momento de transformação e incerteza no seio da União Europeia terão facilitado a vida de Radev. Esta eleição é tanto uma derrota da UE, que tem resistido a uma restruturação que passe pela devolução de soberania aos estados, como uma vitória de Moscovo que tem sabido capitalizar nas fragilidades de Bruxelas.

A dupla eleição presidencial, na Bulgária e na Moldova, mostrou também um curioso paralelismo com as candidaturas pró-UE a serem encabeçadas por duas mulheres: Sandu (Acção e Solidariedade, Moldova) e Tsacheva (GERB, Bulgária); ao passo que as candidaturas pró-Moscovo foram encabeçadas por dois homens do, ou apoiados pelo, Partido Socialista: Dodon (Moldova) e Radev (Bulgária).

A dupla eleição presidencial irá, seguramente, ter reflexos nos desenvolvimentos políticos na vizinha Roménia, que se prepara para ir a votos, para escolher uma nova composição parlamentar, a 11 de Dezembro. É pouco expectável que a Bulgária saia da UE ou a Moldova desista da Parceria de Leste, mas é altamente provável que ambas esfriem o seu euro-entusiasmo e re-aqueçam as relações com Moscovo.

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