Em vez de celebrar Carlos, ser Carlos!

Estamos a ganhar estranhos hábitos, por força de forças que nos escapam. Tornamos em rotina o que, muitas vezes, não controlamos apenas para termos uma remota sensação de segurança. Mas a segurança não aplaca a saudade, nem pára o pensamento, nem seca a lágrima. E o estranho hábito prossegue.

19/03/14. Kirikkale, Turquia. Já tinha passado outros dias do Pai longe, mas nunca tão longe. Já os tinha passado em Abrantes, enquanto estavas por Lisboa, e quase que chegámos a inverter papéis, mas nunca à distância de dois voos. O dia foi estranho. Deixei que o trabalho me enchesse de ânimo, e entre aulas e correcção de trabalhos lá fui passando as horas.

Não deixei de me lembrar de que aquele era o teu dia. Todos os dias são o teu dia, e o da mãe, e os das manas e o de um rol de gente que importa. Mas o 19 de Março é um bocadinho mais teu, do que de todos os outros, e por isso tenho-te sempre mais presente. E mesmo longe, nas terras de Osman e Suleimão, tive presente o Sultão que me trouxe ao mundo. E o dia fez-se...

19/03/15. Espoo, Finlândia. Passei da quente Anatólia, para a gélida Escandinávia, mas pouco mais mudou. Continuei longe de ti, agora apenas a um voo de distância, mas demasiado longe para poder celebrar contigo; para poder saborear qualquer das iguarias que cozinhas com tanto afecto; para poder beber uma ginginha caseira e ver o pôr-de-sol em Abrantes...

O dia foi, uma vez mais, recheado de trabalho e de horas em frente a um computador... Mas não há montanha de tarefas que apague a ausência de quem queremos celebrar, quando os queremos celebrar. Voltei a ter que te celebrar de longe. Não perdi o orgulho de ser teu Filho, mas a distância torna mais complicado poder mostrá-lo. Porque há coisas, sei-o agora, que nem as palavras conseguem expressar.

19/03/16. Carachi, Paquistão. Do frio do Norte da Europa, para o calor do Sul da Ásia. Fiquei ainda mais longe e no entanto não tenho mais saudade. Porque a saudade não cresce com os quilómetros, mas sim com as ausências. E por isso é igual a distante Carachi ou a mais próxima Roma. Estaria na mesma longe, sem poder dar-te um abraço e talvez um postal com o emblema do teu Benfica.

E apesar de tudo hoje sorrio.  Porque muito do que conquistei, muito do que fiz para chegar até aqui fi-lo por, sendo Tiago, ser Carlos. Aprendi muito coisa a observar-te, a estudar como por vezes resolves os teus problemas e fui deixando que a aprendizagem se tornasse parte de mim.

E por isso celebrei-te não apenas em pensamentos e palavras bonitas mas em gestos. Celebrei-te sendo Carlos em acções e gestos. E a vitória que hoje alcancei, mais logo conto tudo no habitual email, não foi minha mas sim tua.

Não sei onde estarei no 19/03/17 mas esteja em Lagos, Nigéria ou em Ierevan, Arménia, sei que estando sozinho e longe não estou só nem tão distante. Porque para celebrar Carlos, o pai, preciso apenas de ser como Carlos, o pai. Não é apenas orgulho que tenho em ti, é amor. E amor copia-se até ao infinito!

FELIZ DIA DO PAI


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