Moldova em rota de implosão!

A Moldova anda por estes dias no meio de um verdadeiro turbilhão político que parece não ter modo de chegar ao fim. Sejamos claros os protestos populares na Moldova não são novos, mas a intensidade das últimas semanas tem sido factor de surpresa... até para o Fidalgo. Mas então porque está a Moldova a atravessar tão grave crise política?

A política na Moldova encontra-se, desde o começo do século XXI, profundamente dividida entre os partidos pró-Bruxelas e os partidos pró-Moscovo. A cisão política entre dois campos antagónicos não é uma novidade no espaço pós-soviético, grosso modo, ou mesmo na Europa de Leste. O grande problema aqui foram os resultados das últimas eleições parlamentares.

As eleições legislativas na Moldova aconteceram a 30 de Novembro de 2014 e resultaram num verdadeiro equilíbrio entre partidos pró-Moscovo (com o PSRM a conquistar 25 mandatos e o PCRM a conquistar 21 mandatos) e partidos pró-Bruxelas (com os Liberais Democratas a conquistarem 23 mandatos, o partido Democrático 19 mandatos e o Partido Liberal 13 mandatos).

Ora o segundo, quarto e quinto partidos mais votados, porque conseguiram somar mais mandatos (55 mandatos, contra os 46 dos partidos pró-Moscovo) aliaram-se numa coligação governamental pós-eleitoral. É o que o sistema parlamentar, ao contrário do que pensam algumas luminárias lusitanas, não se define por "quem fica em primeiro", mas antes por "quem tem mais mandatos"... Curiosidades, claro está!

Até aqui tudo normal... No momento da eleição Iurie Leancă (Liberal Democrata) era o Primeiro-Ministro, tendo ficado em exercício de funções até finais de Fevereiro de 2015. Sucedeu-lhe Chiril Gaburic (Democrata Liberal) que tomou posse a 18 de Fevereiro de 2015 e se demitiu a 22 de Junho de 2015 após a Procuradoria-Geral abrir uma investigação sobre a falsificação de diplomas escolares do então Primeiro-Ministro.

Durante um mês a Moldova teve uma Primeira-Ministra gestionária: Natalia Gherman. A 30 de Julho de 2015 Valeriu Streleț (Liberal Democrata) foi nomeado interinamente como Primeiro-Ministro, apenas para ser removido por uma moção de censura a 30 de Outubro de 2015. Sucedeu-lhe mais um Primeiro-Ministro gestionário, desta vez vindo do Partido Liberal: Gheorghe Brega.

E eis que a 20 de Janeiro de 2016 foi a vez do Partido Democrático ter o seu "momento ao sol" com a indigitação de mais um Primeiro-Ministro, desta feita Pavel Filip. O problema é que em Outubro o voto de censura a Streleț ocorreu na sequência de um mega-escândalo financeiro que abalou a sociedade do estado mais pobre da Europa. E os populares, especialmente, mas não só, os pró-Moscovo, querem que lhes seja devolvida a palavra. E clamam por eleições.

A Europa da União, sempre tão vocal nestas coisas da democracia, tem estado curiosamente silenciosa. É que isto de ter um governo pró-Bruxelas que poderá ser substituido por um governo pró-Moscovo é meio chato e meio inconveniente. A democracia que fique, só por uns mesinhos, suspensa até que exista uma solução que seja tão democrática como europeísta... Isto se ainda existirem europeístas na Moldova depois deste escândalo.

A Moldova foi forçada hoje a pedir assistência financeira à vizinha Roménia, com a qual partilha uma relação muito tensa, e ao FMI. A Moldova clama por eleições, porque entende que eleições tudo resolvem, mas não as pode ter porque o novo Primeiro-Ministro diz que não se demite e mesmo que as tenha não entende que isso nada resolve, porque não se envidaram esforços para o desenvolvimento de uma cultura democrática.

A Moldova prova que o simplismo eleitoralista e o pastiche Constitucional nada resolve e muito complica. Ora um país dividido pela identidade, com grupos pró-unificação com a Roménia, grupos pró-unificação com a Rússia, grupos separatistas na Transnístria e na Gagauzia e grupos nacionalistas, e afectado, de modo endémico, pela corrupção só poderia estar onde está a Moldova: no limiar da implosão política e do colapso social.

Esta Moldova, "cabeça de cartaz" (juntamente com a igualmente frágil Geórgia) da fracassada Parceria de Leste, mostra como Bruxelas tende a sobre-avaliar o seu élan. Os Moldovares não são pró-Bruxelas mas sim pró-fundos-económicos-estruturais-vindos-de-Bruxelas. Os Moldovares não são pró-Bruxelas mas sim pró-ideia-de-entrar-no-clube-do-primeiro-mundo. E não digo que sejam todos pró-Moscovo mas são mais pró-Rússia do que muitos gostariam de admitir...

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