Há quarta será de vez, caríssima Grécia?

A 20 de Setembro de 2015 a Grécia enfrentou o quarto escrutínio legislativo, em menos de quatro anos, depois das legislativas de Janeiro de 2015 (vitória do SYRIZA), de Junho de 2012 (vitória da Nova Democracia) e de Maio de 2012 (vitória da Nova Democracia).

A corrida eleitoral grega, aliás como a corrida eleitoral no Reino Unido e em certa medida na Finlândia, ficou marcada por sondagens que falavam num empate técnico, que logo a realidade se encarregou de desmentir. Aliás as sondagens, este ano, em solo europeu parecem todas destinadas ao fracasso. Ou as empresas de sondagens encontram novas metodologias de trabalho, ou ficam quietas no seu canto...

O SYRIZA foi o vencedor da noite com 35.5% dos votos (apenas menos 0.8% do que em Janeiro de 2015, quando chegou aos 36.3%), que se saldam em 145 mandatos no Parlamento Helénico. É sempre importante lembrar que a Constituição Grega prevê que o vencedor das eleições ganhe automaticamente um bónus de 50 mandatos, de modo a facilitar a formação de governos de maioria monopartidários.

A noite de 20 de Setembro confirmou assim a sedimentação do SYRIZA como uma força política a ter em conta na Grécia, tirando crédito a quem achava que o partido liderado por Alexis Tsipras era um epifenómeno passageiro apenas e só fruto da crise em que a Grécia mergulhou em 2008. Após vencer o escrutínio de Janeiro, e o referendo de Julho (que acabou por resultar num volte-face do governo e na "queda" de Varoufakis), Tsipras consegue de novo galvanizar o cidadão-eleitor.

Em segundo lugar veio a Nova Democracia, com o seu novo líder Vangelis Meimarakis, a conseguir mais 0.3% do que em Janeiro (passando de 27.8% a 28.1%) mas, curiosamente, a perder um deputado baixando de 76 para 75 mandatos. Em Junho de 2012 a Nova Democracia tinha 129 deputados e pouco mais de três anos depois reduz para 75. Uma perda de quase 60%!

O terceiro lugar ficou nas mãos da extrema-direita do Aurora Dourada. O Aurora Dourada é de resto um dos vencedores da noite eleitoral, confirmando-se como a terceira força política. Curiosamente nas últimas eleições o Aurora Dourada tem apresentado resultados similares, entre os 6% e os 7% (conquistando 17 ou 18 mandatos), devendo por isso o estatuto de "terceira força" mais a uma pulverização de votos por outros partidos políticos do que a um real incremento de votos.

O PASOK, talvez o partido mais castigado pelos cidadãos-eleitores desde 2008, surge em quarto lugar com menos de 6.5% (6.38%), que se traduzem em 17 mandatos. É importante sublinhar que os resultados confirmam um "renascer", suave mas consistente, do PASOK, que tem agora 6.38%, quando em Janeiro tinha apenas 5.2% e em Junho de 2012 se quedava pelos 4.7%. Ainda longe, contudo, dos quase 14% de Maio de 2012.

O Partido Comunista Helénico surge em quinto lugar com 5.6% (micro-variação de 0.1% em relação aos 5.5% de Janeiro) e 15 mandatos, tal como alcançara em Janeiro de 2015 e em Junho de 2012. Um pouco como em Portugal, também na Grécia o Partido Comunista parece conseguir capitalizar com a crise mas não de modo extraordinariamente expressivo.

O Potami e os Gregos Independentes, que de independentes têm muito pouco, surgem no lado dos não vencedores da noite. O Potami perde seis mandatos (tendo agora 11 deputados, ao invés dos 17 deputados conquistados em Janeiro) e 2% dos votos (de 6.1% para 4.1%). Já os Gregos Independentes, parceiros de coligação do SYRIZA, perderam 3 mandatos (somando agora 10 deputados e não 13) e 1.1% de votos.

O grande vencedor da noite, para o Fidalgo, foi o partido da União dos Centristas. Criado em 1992, esta força política nunca antes conseguira entrar no Parlamento. E consegue fazê-lo conquistando 3.4% dos votos (um aumento de 1.6% em relação a Janeiro) que lhes dão os primeiros nove deputados.

Já os perdedores da noite são os candidatos do Unidade Popular, força política que surje de uma cisão interna no SYRIZA, e que agrega uma visão mais anti-austeridade e menos colaboracionista com Bruxelas. Ficaram a uns míseros 0.1% de entrar no parlamento, mas a verdade é que não entram e correm, por isso, risco de desaparecer na espuma dos dias que se seguem.

As eleições confirmaram a exaustão do eleitorado grego. O taxa de participação ficou-se pelos 56.6% o pior resultado alcançado desde 1951, num país tradicionalmente com altas taxas de participação. Curiosamente, a Grécia tem obrigatoriedade do voto inscrita na lei, mas nunca foram utilizados mecanismos sancionatórios aos cidadãos que não exercem o seu direito ao voto.

As eleições parecem mudar pouco, sendo quase certa a manutenção da coligação SYRIZA + Gregos Independentes (145 + 10 = 155 mandatos), mas mudam bastante.  Após romper com muitas das promessas feitas em Janeiro de 2015, Tsipras sabia que precisava de um novo mandato que confirmasse que o povo grego ainda quer seguir o seu plano. E a verdade é que Tsipras ganhou a aposta, os gregos querem seguir o seu plano.

As eleições colocam agora a pressão no novo governo, que será confirmado o quanto antes, para implementar o duríssimo pacote de medidas assinados no âmbito do terceiro resgate financeiro. O maior problema, todavia, não será aprovar leis no Parlamento, mas fazer com que as mesmas produzam os efeitos esperados fora do Parlamento. Há quarta será de vez? Ou caminhamos já para o quinto escrutínio?


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