A obra nasce...

Um autor nunca é dono da sua obra. Esta é uma das primeiras coisas que aprendemos a aceitar quando escrevemos e partilhamos aquilo que escrevemos. Isto porque apesar de sermos os autores, os criadores de algo, esse algo só se realizará quando for lido por outrém e por isso a obra não é nossa (do autor) mas de quem a lê, porque lhe dará sentido...

Ontem na Biblioteca Municipal António Botto lancei, por fim, a minha primeira obra de literatura científica: "O Confronto dos Projetos Nacionais no Cáucaso Norte", com a chancela da Nota de Rodapé Edições. A obra, agora em livro, resulta de se transpor para livro o trabalho de quatro anos de Doutoramento. A obra resulta de querer partilhar o que fiz e não guardar conhecimento numa prateleira.

E foi isso que retive da sessão de lançamento! Um momento de partilha. Convidei o Professor Alves Jana para fazer a introdução da obra e do autor. O resultado não poderia ter sido melhor: provocador, arrebatador e cativante. A obra foi sendo apresentada como um ponte entre o que o autor agora sabe e o que leitor pode ficar a saber. A obra foi apresentada como um meio e não como um fim. E enquanto era apresentada a obra nasceu.

Enquanto ouvia o Professor Jana falar sobre o livro, que pôde ler de antemão, e falar sobre o autor (eu, portanto!) lembrei-me das inúmeras tardes e noites em Oeiras, rodeado de livros e de dossiers, com latas de Red Bull numa prateleira e uma chávena de chá noutra... Ao ouvir aquelas palavras lembrei-me dos sorrisos nos pequenos avanços (mais um parágrafo! Hurray!) e nas lágrimas dos bloqueios e dos recuos.

E enquanto ouviu aquelas palavras tomei consciência de que a obra transpõe o Cáucaso Norte, não apenas pela abordagem teórica que permite uma transferência de conhecimentos para outras geografias, mas porque a obra é Caúcaso + Tiago. A obra não oferece apenas uma análise, muito menos oferece A análise, sobre o Cáucaso... Oferece a análise que o Tiago pode fazer, num determinado tempo.

E enquanto ouvia aquelas palavras percebi que não era simplesmente a obra que nascia, era eu que me completava um pouco mais. E depois ouve aplausos... E a palavra passou a estar do meu lado. Deixei de ouvir para falar. E o que era para ser uma apresentação de uma obra, da minha obra, tornou-se numa simpática soirée em que o Cáucaso se alargou.

E entre perguntas e respostas, num diálogo que mostrou como a obra não era, desde aquele momento, apenas minha, lá apareceu a complicada Ucrânia, e o mais distante Turquemenistão. Lá demos um saltinho até ao Médio Oriente e depois um pulo até ao Norte da Europa. E assim, sem pretensões de grandeza e num ambiente de pontes e de conhecimento partilhado a obra nasceu!

Obrigado a quem esteve presente e a quem não esteve, mas queria ter estado, obrigado também. E agora é tempo de pensar na segunda obra científica e talvez olhar de novo, e com afinco, para as obras literárias que tenho guardado (num exercício de egoísmo confesso) apenas e só para mim. É altura de as dar aos seus donos...


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