A onda não pára... Agora foi a Dinamarca!

Com Junho a entrar na última dezena, a Dinamarca foi a votos para escolher os 179 deputados da nova legislatura. Contudo, com a Grécia a debater o decurso do segundo resgate; com o Reino Unido a falar do referendo que pode tirar Londres da Europa da União; com a questão da Ucrânia ainda tensa e com a Hungria a desafiar o projecto comunitário de quotas na emigração, é quase natural que a eleição na Dinamarca tenha passado despercebida a muitos.

As eleições na Dinarmarca foram muito marcadas por três grandes temas: relações com a União Europeia (maior integração? ou afastamento cauteloso?); emigração (com vários partidos a quererem reintroduzir controlos fronteiriços, quotas de emigração e mudanças na lei do asílo) e contas públicas (com o debate entre cortes para evitar desiquilíbrio orçamental vs. gastos para manter o Estado-social).

Tal como temos visto acontecer nos Países Baixos, na Finlândia, na Suécia, na Itália, na Hungria e na França também na Dinamarca a extrema-direita apresentou-se de "cara lavada". Kristian Dahl exibe traços próprios cosmopolita; apresenta argumentos afiados e bem ensaiados; sabe usar o medo sem parecer que o usa e sabe, acima de tudo, como parecer simpático mas assertivo perante os media.

Kristian Dahl mostrou, em toda a campanha, porque razão a extrema-direita parecer ser cada vez mais atractiva para o eleitor: candidatos com boa presença, boa prosódia, sorriso simpático e com capacidade de polir visões do mundo extremadas. Por Portugal ainda temos um desastroso PNR que, entre outras coisas, é incapaz (felizmente!) de passar uma imagem de segurança e conforto... Ainda...

Veio o dia de se votar. Votou-se. Contarem-se os votos. E os resultados foram estes: os Sociais Democratas (da família do PS português) com mais de 26% de votos (26,3%) e com 47 mandatos, mais 3 do que na eleição de 2011. O Partido Popular Dinamarquês (extrema-direita) consegue mais de 21% (21,1%) dos votos, que lhe dão 37 deputados (mais 15, do que os 22 alcançados em 2011) e transformam o partido na segunda maior força política do parlamento dinamarquês.

O Venstre (centro-direita) ficou abaixo dos 20% (19,5%) com 34 deputados eleitos. O Venstre passa de força política com maior número de deputados (47 eleitos em 2011) para terceira força política na Dinamarca em 2015. A Aliança Verde-Vermelha (extrema-esquerda) ganhou mais dois deputados, contando agora com 14 mandatos (7,8%) em vez dos 12 deputados de 2011.

A Aliança Liberal (centro-direita) também ganhou deputados! Passou de 9 eleitos em 2011 para 13 eleitos em 2015 (7,5%). O novo partido A Alternativa entrou no parlamento com 9 deputados e quase 5% dos votos (4,8%). A Esquerda Radical perdeu mais de metados dos deputados: de 17 eleitos em 2011 para apenas 8 eleitos em 2015 (4,6% dos votos).

O Partido Popular Socialista (esquerda) também perdeu mais de 50% dos deputados; dos 17 eleitos em 2011 passaram para 7 eleitos em 2015 (4.1%). O Partido  Conservador (direita) perdeu apenas dois mandatos (3.4%), contando agora com 6 deputados, em vez dos 8 mandatos conquistados em 2011.

Primeira conclusão! O parlamento na Dinamarca com 179 mandatos disponíveis consegue eleger nove partidos que vão da extrema-esquerda à extrema-direita. Por muito perigoso que seja ter partidos das extremas em lugares de poder, a verdade é que o parlamento dinamarquês é capaz de abarcar uma série de vozes e visões diferentes, num mesmo espaço.

O Parlamento de Portugal com 230 mandatos apenas consegue fazer eleger cinco partidos (os Verdes e mesmo o PPM acedem ao Parlamento por coligação) que nem sempre conseguem traduzir a variedade de vozes e visões de que se compõe a sociedade portuguesa. Talvez a inclusão do método Saint-Laguë (próximo do método de Hondt usado em Portugal) "temperado" com a quota Hare pudesse solucionar isso... Talvez...

Segunda conclusão! Quatro partidos aumentam o número de votos e o número de deputados. Desses quatro, dois deles são de extrema: a extrema-direita do Partido Popular Dinamarquês (com mais 15 deputados) e a extrema-esquerda da Aliança Verde-Vermelha (com mais 2 deputados). O que mostra que a sociedade dinamarquesa parece seguir o mesmo caminho de outras sociedades do Norte que polarizam perigosamente para os extremos. Não é só a Grécia...

Terceira conclusão! A subida da extrema-direita populista a uma posição de força poderá levar a uma situação de termos um "governo refém" incapaz de alcançar certos compromissos e de fazer algumas reformas... O mais certo a acontecer é o terceiro partido mais votado, Venstre (centro-direita), conseguir o apoio do segundo partido mais votado, Partido Popular Dinamarquês (extrema-direita), para expulsar o partido mais votado, Sociais Democratas (centro-esquerda), do poder.

Quarta conclusão! A onda populista eurocéptica de extrema-direita continua a somar vitórias na Europa, mostrando que o projecto Europeu precisa reformular-se profundamente. No entender do Fidalgo a Europa da União não precisa de mais integração, mas de menos... Precisa voltar a ser uma organização interestatal transnacional sem ambições de ser uma pré-Federação.

A Europa tem ainda pela frente, este ano, eleições na Polónia, Croácia, Espanha e Portugal e em pelo menos três destes quatro existem partidos eurocépticos em condições de disputar o poder. E Portugal não é um deles... Quem quis minorar o caso do extremismo-populista finlandês, tem nestas eleições na Dinamarca que algo está a mudar no Norte e a mudança em curso não é necessariamente mais inclusiva e solidária...


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