Uma bomba-relógio chamada Macedónia

Primeiro um mea culpa! É verdade que os investigadores e analistas políticos tendem por vezes a usar linguagem dramática, hiperbólica se quiserem, quando analisam os factos sociais. Não que gostemos de viver em permanente situação de pré-apocalipse, mas porque de outra forma os decisores políticos e a sociedade civil tende simplesmente a ignorar os avisos...

Desta feita, contudo, a linguagem será tão dramática quanto a situação no terreno. A Macedónia entrou uma periga espiral de tensões étnicas que poderá levar a uma implosão da Macedónia e a uma reemergência de conflitos interétnicos nos Balcãs. Ninguém quer voltar aos eventos trágicos dos anos 1990, mas também poucos parecem apostados em tentar prevenir esse regresso à tragédia.

Os últimos acontecimentos na Macedónia deixam antever o pior. A morte de 22 albaneses na aldeia de Kumanovo (a 10 de Maio) acusados de actividades terroristas foi apenas mais uma faísca, entre muitas outras, para agitar as relações muito tensas entre albaneses e macedónios. Só para se ter noção clara das coisas os albaneses são uma "minoria" étnica que compreende quase 30% da população.

Ao mesmo tempo, o governo liderado pelo Primeiro-Ministro Gruevski encontra-se no meio de um escândalo político acusado de espiar em várias figuras do Estado. Zoran Zaev, líder do maior partido da oposição (a esquerda Social Democrata), recusa negociar qualquer reforma ou plataforma de transição política com Gruevski. Sabe o Fidalgo que Zaev nem sequer atende o telefone às chamadas do Presidente da Macedónia.

Como se isto não bastasse a 17/18 de Maio, Skopje foi varrido por vários protestos massivos anti-governo e pró-governo que demonstram a fragilidade da convivialidade interétnica na Macedónia. Níveis de desemprego elevados, níveis de pobreza elevados e o fracasso de uma série de reformas políticas e económicas estão a levar as populações da Macedónia a um perigo ponto de fractura social.

A União Europeia já se ofereceu para mediar o conflito político entre Gruevski e Zaev. As hipóteses de sucesso da mediação da União são reduzidas, tendo em conta que a Macedónia não é estado-membro, o que limita o raio de acção dos diplomatas de Bruxelas. O sucesso da mediação dependerá da capacidade de Gruevski e Zaev fazerem concessões mútuas... Algo pouco provável!

Na esfera da segurança a OTAN tem estado atenta aos desenvolvimentos na Macedónia e especialmente às movimentações de forças paramilitares do Kosovo com direcção à Macedónia. Afinal o fracassado projecto do Kosovo é, em larga escala, responsabilidade do aventureirismo norte-americano que usou a OTAN como "testa de ferro".

A fronteira entre a Macedónia e a Sérvia encontra-se patrulhada por forças conjuntas da Sérvia, da Hungria e da Áustria, num claro sinal de que a situação na região é tensa. A somar a isto, temos que nos lembrar que as relações com a Grécia continuam tensas por causa da "Disputa pelo Nome" que se arrasta sem sucesso desde os anos 1990.

De resto as relações da Macedónia com a Sérvia também já foram melhores; as relações com a Albânia e com o semi-reconhecido Kosovo encontram-se num momento delicado. E se a tensão na Macedónia é grande, na (ali tão perto) Bósnia-Herzegovina as coisas não estão melhores. Este barril de pólvora só precisa de um pequeno fósforo para rebentar e com estrondo.


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