O Reino Unido pós-eleitoral e o furacão que afinal era brisa suave...

As eleições no Reino Unido marcaram a agenda internacional nas últimas semanas, com várias sondagens a darem por incerto o resultado do escrutínio eleitoral. Analisavam-se possíveis coligações, possíveis impasses nas negociações entre partidos, possíveis tensões pós-eleitorais e até possíveis repetições do exercício eleitoral. Veio o dia e puf!

As eleições no Reino Unido não podiam ter sido mais claras: os britânicos apoiam David Cameron e a sua equipa. Tanto assim é que David Cameron conquista quase mais 1% de votos, em relação ao último escrutínio (passando de 36,1% para 36,9%) e aumenta o número de deputados Conservadores em 24. Estão agora 330 mandatos nas mãos dos Conservadores. Em 2010 eram 306!

O segundo lugar ficou para os Trabalhistas, de Ed Milliband, que perderam 26 deputados, passando de 256 para 232 mandatos, mas subiram em número votos conquistados passando de 29% para quase 30,5%. Em terceiro a grande surpresa da noite: o Partido Nacional Escocês passa de 6 deputados para 56 deputados, conquistando quase todos os mandatos disponíveis na Escócia.

Em quarto os Liberais Democratas, que tiveram uma noite para esquecer: perderam mais de 15% de votos (baixando de 23% para 7.9%) que se traduziu em apenas 8 mandatos conquistados, ao invés dos 56 mandatos conquistados em 2010, ou seja, 49 mandatos perdidos. Fica a faltar o UKIP com um resultado ambíguo: apenas 1 deputado eleito mas conquista 12,6% dos votos.

Para os Conservadores a noite não podia ter corrido melhor. Depois de um governo de coligação (Conservadores - Liberais Democratas), Cameron pode agora governar sozinho. A governação não será contudo fácil tendo que responder ao Desafio Independentista da Escócia e que cumprir com a promessa do Referendo à Permanência na União Europeia.

Para o Partido Nacional Escocês, liderado por Nicola Sturgeon, a noite também foi de glória. A conquista de 56 dos 58 mandatos disponíveis na Escócia demonstra bem como a questão independentista continua viva e como a derrota do "Sim" (à independência) se deveu quase exclusivamente às promessas, feitas por Cameron, de devolução de poderes. Um novo referendo independentista não está, de todo, excluído.

Os Trabalhistas foram claramente incapazes de galvanizar o eleitorado britânico, que perante as inúmeras incertezas (com relação ao crescimento económico, pressão migratória, permanência na UE) deram o seu voto a um caminho que já conhecem. Cameron beneficiou também da ausência de arrojo criativo de Milliband.

Os Liberais Democratas foram, quiçá, penalizados pela sua coligação com os Conservadores. O certo é que de parceiro júnior da coligação governamental passam a força política minoritária, com o mesmo número de deputados que o Partido Democrático Unionista, que conseguiu menos do que 1% dos votos.

O fenómeno mais estranho das eleições do Reino Unido, quanto ao Fidalgo, acontece com o UKIP. O partido de extrema-direita que tinha como líder o polémico Nigel Farage termina a noite eleitoral com apenas 1 mandato conquistado. Isto apesar de ter arrebatado mais de 12,5% dos votos nacionais. Quem defende os círculos uninominais viu como os mesmos também podem preverter o voto.

O UKIP com mais de 12,5% conquista 1 mandato; o Partido Nacional Escocês com menos de 5% conquista 56 mandatos e vários partidos com menos de 1% dos votos conquistaram mais mandatos do que o UKIP. A ausência de mandatos contudo não esconde o facto de o UKIP ter ficado em segundo lugar em inúmeros círculos eleitorais. A vitória do UKIP ainda não aconteceu, mas as sementes estão lançadas para que possa acontecer...

O que as eleições no Reino Unido também deixaram claro foi o total fracasso das sondagens. Se no Reino Unido pós-eleitoral vários líderes políticos apresentaram a sua demissão, por manifesta incapacidade de cumprirem o prometido, o que irá acontecer ao directores das agências que realizaram as (nada certeiras) sondagens pré-eleitorais?


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