No Dia da Liberdade olho para o Togo

Fazem hoje 41 anos desde que o País rompeu com a II República, o tal Estado Novo que se instalou pelo fracasso avassalador e turbulento da I República (facto histórico muitas vezes minimisado pela Historiografia oficial), para iniciar um novo ciclo republicano, que por estes dias parece tentado a recuperar alguns traços do regime que colapsou nesse dia de Abril de 1974.

Curioso como hoje, quando se celebram os 41 anos de III República, se realizam eleições no Togo que me dizem que valeu a pena essa manhã de Abril em que fomos inteiros. O que falhou não foi a revolução mas a sua consolidação. O que falhou não foi o sonho de Abril, mas a realidade do pós-Novembro de 75 que criou uma série de assimetrias que minaram o regime por dentro.

Mas olho então para o Togo! Portugal foi o primeiro país da Europa a ter relações comerciais com a terra que hoje se chama Togo, mas foi a Alemanha quem colonizou o Togo no pós-Conferência de Berlim. Com a derrota de Berlim na I Guerra Mundial, o Togo passou para administração conjunta de Paris e Londres ao abrigo do regime de protectorados estabelecido pela Liga das Nações,

Em 1956 a parte do Togo sobre administração Britânica votou a sua inclusão no novo país chamado Gana. O Togo sobre administração Francesa tornar-se-ia independente em 1961. E desde então a História política do país tem vivido uma série de peripécias, golpes de estado, eleições tensas e acordos políticos falhados que apenas sedimentaram o poder dos Gnassingbé.

O Togo, como muitos outros países em África, tornou-se uma República Eleitoralista Dinástica na qual a liberdade de expressão, de opinião e de escolha se encontra limitada pelo poder das leis e pela intimidação das armas. O actual Presidente, Faure Gnassingbé, que procura reeleger-se para um terceiro mandato, chegou ao poder em 2005. O seu antecessor? Gnassingbé Eyadéma (seu pai) que governou o Togo entre 1967 e 2005.

O Togo que hoje vai a votos, com uma oposição fragmentada e uma população exaurida pelas dificuldade económicas e pela contínua instabilidade política que apenas beneficia aos que controlam o poder em Lomé (capital do país), mas seria igual se não fosse. O resultado do escrutínio está decidido antes do mesmo ter acontecido. O Togo seguirá o caminho que começou a trilhar em 1961/1967...

É esse mesmo caminho que Portugal, em Abril de 1974, rejeitou. É esse mesmo caminho que, para horror do Fidalgo, alguns parecem devotados a querer fazer voltar. É esse mesmo caminho que não podemos voltar a trilhar e que por isso temos que lembrar. Aos saudosistas dos tempos do orgulhosamente sós o Fidalgo convida a que migrem para o Togo, ou para o Burundi. Aos demais o Fidalgo pede que não se esqueça o sonho de Abril.

Abril não terá fracassado enquanto acreditarmos que podemos transformar Portugal, evitando que sejamos "Togolizados". O 25 de Abril não pode terminar às 23h59! O 25 de Abril (bastião no crer democrático) tem que seguir em frente, com ou sem República por timoneira... Porque podemos fazer Abril sem República, mas isso fica para outro dia!


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