Mensagens frias na Finlândia pós-eleitoral

A Finlândia foi a votos antes dos súbditos de Isabel II lançarem o voto, numa eleição considerada crucial para o futuro não apenas do Reino Unido mas do projecto Europeu. Mas não mudemos de assunto: a Finlândia foi a votos e o resultado foi confuso: a direita perdeu o poder e a esquerda, coligada com a extrema-direita e a mesma direita derrotada, formou governo.

As eleições na Finlândia foram marcadas pelo medo de uma nova crise económica, com o PIB finlandês a cair desde 2012 (embora não de forma tão acentuada como ocorreu em 2008, 2009) e pelas questões da emigração e da integração social dos emigrantes (com especial relevo para os emigrantes da Estónia e da Somália).

A questão da tão falada "Agressão Russa" na Ucrânia foi relativamente marginal durante toda a campanha política. O mesmo não se pode dizer da "Questão Grega" que dominou o debate, com a maioria da opinião pública cada vez menos favorável a que se dispenda mais dinheiro com quem parece não querer pagar e não querer cumprir acordos. A falta de informação isenta, sem enviesamento ideológico, foi uma constante...

Vamos então a números! O Partido do Centro venceu as eleições com 21,1% dos votos conquistando 49 mandatos (num parlamento com 200 lugares) e ficando longe de conseguir qualquer espécie de maioria sem coligação. E coligação no plural porque dois partidos apenas não chegará para alcançar uma maioria governativa estável.

O "True Finns" (Partido dos Verdadeiros Finlandeses) consegue ser segundo no número de mandatos conquistados (38 mandatos), mas apenas terceiro na percentagem de votos com 17,7%. Já a Coligação Nacional (até então no poder) surge em segundo na percentagem de votos (18,2%) mas conquista um mandato a menos do que os "True Finns", ficando-se assim pelos 37 mandatos.

O quarto lugar foi para os Sociais Democratas (centro-esquerda) com 16,5% de votos e 34 mandatos. A Liga Verde (8,5%, 15 mandatos) e a Aliança de Esquerda (7,1%, 12 mandatos) conquistaram os restantes lugares. Um pouco como acontece em Portugal os votos à esquerda pulverizam-se entre várias forças, enquanto os votos à direita se tendem a concentrar.

Com estes resultados é óbvio o que se segue: Juha Sipilä será o Primeiro-Ministro da Finlândia se for capaz de coligar o seu Partido do Centro com o Partido dos Verdadeiros Finlandeses. Ficam assim coligados 87 mandatos ficando-se a 14 mandatos dos 101 deputados precisos para ter maioria no Parlamento da Finlândia. O que fazer?

A aliança com a Liga Verde daria a soma de 102 deputados, uma maioria, por certo, mas relativamente periclitante. A aliança com os Sociais Democratas poderia ser uma opção, mas o discurso de campanha de Antti  Rinne criou não várias vezes faísca com o discurso de Juha Sipilä. Coligações instáveis é tudo o que não se precisa.

Resta chamar ao poder, quem parece que não vai sair do poder. A Coligação Nacional, liderada pelo até então Primeiro-Ministro Alexander Stubb, será a melhor aposta para um tripla-coligação que deterá a lealdade (nem que seja institucional) de 124 dos 200 deputados agora eleitos. A tradição de coligações na Finlândia garantirá o funcionamento do governo mas a chegada ao poder, com força, de partidos como os Verdadeiros Finlandeses devia causar alarme em todos.

Última nota: o que o Fidalgo nota é que ficamos todos em pânico quando a extrema-direita avança na Grécia (como é o caso do fenómeno "Aurora Dourada"), na França (com os acólitos de Le Pen) ou até mesmo na Hungria. Mas quando a mesma extrema-direita avança a Norte (no tal Civilizado Norte) tende-se a aligeirar o discurso.

E a extrema-direita passa a nacionalismo-populista; o discurso retrógado passa a discurso ultraconservador; as políticas anti-emigração passam a proteccionismo e por aí em diante... A Finlândia dá sinais que deviam preocupar a Europa quando ainda faltam muitos outros (da vizinha Dinamarca à mais distante Espanha) irem a votos.


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