O síndrome do "ex", ou um estranho amor por Putin!

Patética, é a única forma de descrever a imensidão de notícias sobre o "desaparecimento" de Vladimir Putin. Para além de ter sido inundado por perguntas, de várias geografias e de vários quadrantes, sobre o que eu achava que acontecera (às quais respondi com um "Nada! Não aconteceu nada"), ainda tive que me deparar com coisas como: Cenários para uma Rússia pós-Putin, Quem ligou para a Arménia, se Putin não estiver vivo?, Onde anda Putin?

E hoje, Putin lá apareceu sadio ao lado de Almazbek Atambayev, Presidente do Quirguistão, que se prepara para entrar oficialmente para a União Eurasiática. Atambayev garantiu aos jornalistas que foi Putin (saudável, claro está!) quem conduziu a viatura com a qual trilharam as ruas de São Petersburgo.

O Kremlin já fez saber, ao final do dia, que não voltará a responder a perguntas sobre a saúde de Putin. O que o episódio demonstrou é que a imprensa Ocidental facilmente se deixa envolver (pois mais importante do que pensar é publicar, publicar, publicar!) em ondas mediáticas com pseudo-factos.

Se a intenção era destabilizar a liderança de Moscovo, o golpe não só saiu pela culatra como revela uma manifesta incapacidade de se fazerem escolhas políticas inteligentes. Nisto o Fidalgo tem poucas, se algumas, dúvidas: a onda esquizofrénica de notícias sobre o "desaparecimento de Putin" foi um episódio político-diplomático.

Um episódio político-diplomático que demonstra como ter soft power não é necessariamente sinal de que se tem power algum. Um momento pouco sagaz, de quem não conseguindo destabilizar a Rússia com as tais sanções económicas (que, nos actuais moldes, têm cada vez menos apoiantes), achou por bem dar uma de Orwell.

O mais curioso de tudo, é que o "lançamento" de notícias alarmistas relacionadas com a saúde de Putin causou, em alguns analistas e comentaristas da praça, uma reacção que podemos chamar de "síndrome do ex". O ódio que se tem pelo/a "ex" (porque o Ocidente teve a sua fase romântica com Putin até 2008) entrou em metamorfose com a inesperada ausência do tal "ex".

Primeiro vem a surpresa: Não o/a vejo faz tempo. Por onde andará? Depois vem o compadecimento: onde andará para ninguém o ver? Será que, onde quer que ande, está bem? Seguido da fabulação de porquês: porque será que desapareceu ao certo? Será das alergias que sempre teve? Ou terá agravado aquela lesão feita há uns anos?

E termina-se com as projecções pós-apocalípticas: Como será a vida sem o/a "ex"? Como será o dia a dia num mundo pós-ex? É que, sem nos apercebermos, a própria existência do "ex" se torna numa necessidade, para expelirmos ódio e escárnio contra algo e não apenas para o ar. Afinal dizem por aí que tudo o que sobe também desce...

E, na maioria das vezes, após passarmos por todas as fases, o tal "ex" acaba por aparecer. Mais dia menos dia lá nos cruzamos com o/a "ex", e lá temos que corar (em segredo) pela estupidez auto-imposta. A única diferença é que, neste caso, muito boa gente, terá que corar perante si e perante os que os seguiram no tal alarmismo oco.

Além da ideia de se empolar o "desaparecimento" de Putin ter resultado em nada (para quem a começou!); muito boa gente, ainda teve que "engolir" com o comentário irónico do líder do Kremlin. Segundo o reaparecido Putin: "a vida seria muito aborrecida se não existissem boatos!". O povo bem diz que que quem ri primeiro não ganha, mas há sempre quem não aprenda...

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