De como estás presente na ausência...

Não é a primeira vez, nem a segunda, que passamos este dia separados. Acho, de resto, que foram mais as vezes que passámos este dia separados, do que juntos. Contingências da vida que me habituei a aceitar. Interrogo-me na mesma sobre elas, porque a vida de quem escreve é marcada de interrogações, mas não procuro respostas. Aceitei...

Lembro-me, contudo, como em mais novo fazias o esforço para ir aparecendo. Para que eu, o menino que ia para casa apenas com a mãe e a mana, tivesse o pai por perto nas festa do infantário e do colégio. E depois cresci. E crescer significou o final das festas; o término dos presentes feitos na escola e um afastamento que, eu sei, tentavas combater.

Tivemos momentos mais tensos, enquanto um crescia e clamava por mais espaço e o outro, crescido, via o espaço ser clamado. Mas este dia foi sempre especial. Lembro-me de como sempre planeámos com sorrisos no rosto o que dar e porque dar, o que íamos dar. E depois, no fim-de-semana em que vinhas da capital, lá te estendíamos o embrulho. E aguardávamos por um sorriso.

Escolheste uma vida de Combate e de serviço, mas duvido que tenhas escolhido a batalha que tens travado contra a ausência. Não podendo estar presente, tentaste estar pouco ausente. Uma luta hercúlea mas, muitas vezes, bem sucedida. E mesmo quando perdias a batalha, eu via que não te resignavas... E a luta continuava.

E depois fui para a cidade onde estavas. E, mesmo assim, a partilhar a mesma cidade, continuámos em afastamento. Mas ficámos menos longe e não falo de quilómetros ou centímetros. Falo de proximidade. E aprendemos melhor como estar presente, não podendo estar lá sempre. E depois tive que sair; que rumar a outras paragens.

É o segundo Dia do Pai que passo fora do meu país. Depois da Turquia, agora é na Finlândia, que deixo que um sorriso me invada o rosto ao acordar. Não vamos ter fotos tiradas ao lado um do outro; não vamos jantar juntos, nem almoçar; não vamos beber café, ou whisky, ou aquela tua ginginha caseira juntos. E contudo não estamos separados.

É o segundo Dia do Pai que passo fora do meu país. E vejo-te a lutar contra tantas ausências, em que queres estar presente, mas enquanto homens somos finitos. Vejo-te querer todos com um sorriso, quando esqueces que o teu sorriso também conta. Vejo-te tentares que os cinco estejam bem, quando nós os cinco só queremos é que também estejas bem. Que olhes para e por ti!

Não vou escrever, como já o fiz no passado, que és o Melhor Pai do Mundo; porque não preciso do Melhor Pai do Mundo. Preciso apenas de um Pai, no mundo, que queira ser melhor; preciso apenas de um Pai que nos limites da sua humanidade, me pareça sobre-humano ao estilo Batman. Preciso apenas de um Pai que o queira ser e não se resigne ao que já foi foi, mas ao que pode ser.

Não preciso, nenhum de nós os cinco precisa, do Melhor Pai do Mundo (balela comparativista de uma sociedade parolinha)... Precisamos apenas de ti: do nosso Pai. E mesmo longe, separados por quilómetros e milhas, preciso apenas de um pai que se vá fazendo presente. E se entre falhares, porque nem sempre vencemos, só preciso que continues a tentar; e a tentar; e a tentar.

É o segundo Dia do Pai que passo fora do meu país, mas não é o segundo em que estamos longe, mas nos podemos fazer perto. Eu estou perto. Agarra em qualquer livro que te ofereci, com escritos meus, e verás que estou ao alcance, na prateleira que exibes com orgulho. E trago-te hoje ao peito, não apenas no coração, mas num pin que me deste antes de sair do país. Na ausência fizeste-te presente...

FELIZ DIA DO PAI!


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