"Ode a um Mundo Sem Ética" ou de novo a FCT...

Fiquei anteontem a saber que, uma vez mais, não consegui a Bolsa Individual de Pós-Doutoramento da FCT. Desta vez contudo existem algumas nuances, naquele que vai sendo um tango entre quem quer fazer Ciência em Portugal (os investigadores) e quem quer destruir a Ciência em Portugal (a FCT).

Nuance 1: fui excluído do concurso por questões administrativas. Recebi um email a avisar das irregularidades administrativas a 10 de Novembro. No mesmo são me dados 10 dias para me pronunciar. Respondi a 11 de Novembro. Ainda aguardo resposta da pronúncia em causa...

Nuance 2: pela primeira vez estou pouco desapontado. Talvez por não ser a primeira vez que passo por isto, ou simplesmente por ter aceite o facto de que amar o país e vergar-me a quem o governa são coisas diferentes e distintas. Amo Portugal mas, já percebi, que por agora terei que trabalhar fora do meu país para me poder realizar

Nuance 3: Porque partilho então o texto enviado à FCT e que nunca teve resposta? Porque queria que isto não acontecesse a investigadores sem oportunidade de "dar o salto". Porque gostaria de ver as instituições competentes, o tal Ministério da Educação ou a Comissão Parlamentar para a Educação, Ciência e Cultura, tomarem medidas para impedir a delapidação do frágil edifício científico que se tentou construir em Portugal.

Nuance 4: Não conto voltar a concorrer, no próximo concurso (que abrirá este ano, lá para Junho/Julho) de atribuição de Bolsas Individuais da FCT. Porque existe um limite de decência e auto-respeito que ainda tenho e do qual não abdico. Entendo que o tempo é para "poupar" e "cortar", mas boa-educação, honestidade, ética e profissionalismo não custam nada...

Caro Paulo Pereira
Vogal do Conselho Diretivo da FCT,

Este email vem na sequência do email recebido ontem, no qual fui informado que “a FCT concluiu que a candidatura por si titulada, supra identificada, não reúne as condições de admissibilidade necessárias à sua avaliação, pelo que propõe que a mesma seja excluída do Concurso com fundamento no seguinte: Não foi realizada a associação do orientador científico à candidatura” e que teria 10 dias úteis para me pronunciar sobre a decisão comunicada.

A decisão em causa não estando formalmente errada carece de rigor e demonstra má-fé, para não dizer pior, pela parte de quem avalia as candidaturas na FCT. É verdade que o candidato parece não apresentar qualquer Orientador, mas também é verdade que apresenta dois co-Orientadores.


Ora numa situação destas, e já me aconteceu algo semelhante num concurso para Itália e num outro para a Noruega, a instituição decide à priori pela exclusão do candidato, em vez de se questionar se não terá havido um lapso e se um dos co-Orientadores não será, de facto, Orientador.

Após ter conversado com um dos Co-Orientadores que lacraram a associação ao meu projecto fiquei a saber que a plataforma, no momento de lacrar a candidatura, apresentava apenas a opção co-Orientador. Ora um erro técnico da plataforma não deveria, tem em crer o candidato, levar à exclusão do proponente.

O candidato avança na sua Candidatura, no ponto 5 – Condições de Acolhimento, o nome do Orientador e do Co-Orientador e os mesmos nomes coincidem com os nomes dos dois Co-Orientadores que lacraram a sua associação ao projecto. Uma análise séria da candidatura teria detectado isso e teria deduzido que se estava perante um lapso sobre o qual o proponente deveria ser inquirido, antes de ser proposto a exclusão.

O candidato teve sempre presente que um projecto que se propõe a explorar a dinâmica da construção de Estados na região do Vale de Fergana, no coração da Ásia Central, teria poucas hipóteses de “sobreviver” ao processo de análise da FCT. Mas o candidato quis acreditar que o processo seria dotado de rigor, objectividade e espírito crítico (na versão completa do termo).

Sabemos que os tempos pedem contenção, e que “cortar” está na ordem do dia, mas contenção não deveria ser sinónimo de falta de rigor e de clara má-fé por quem conduz o processo de avaliação das candidaturas às Bolsas Individuais de Doutoramento e Pós-Doutoramento 2014.

Quando uma instituição se escuda em formalismos, como mecanismo de corte, algo está errado. Quando uma instituição de promoção da Ciência é incapaz de perceber que a formalidade é um mecanismo facilitador e não castrador do processo científico, algo está muito errado. É por razões como esta que Portugal se tem mostrado incapaz de reter a sua, ainda embrionária, comunidade científica.

Aguardo uma resposta da Vossa parte.

Atenciosamente,
Tiago Ferreira Lopes


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