Não se deu o divórcio, mas ainda faltam as partilhas...

A Escócia rejeitou a independência... A notícia faz manchete nos jornais e, ao que parece, a Europa suspira de alívio. Que isto de ter novos Estados assusta muita gente... A Escócia terá rejeitado a ideia de uma cisão com o Reino Unido, com 55% a votarem pela manutenção da União e 45% a quererem saltar fora.

A noite do referendo teve uma atmosfera Eurovisiva, com os media por todo o lado, com votação em contagem decrescente, com "cantorias" a que chamaram de campanha e com a excitação da votação que chegava de 32 localidades. O ambiente perfeito para uma noite longa, sem dormir, que culminou na antecipada vitória do Não (os pró-Unionistas).

A noite de resto não confirma, mas também não desmente, o post anterior do Fidalgo. Afinal houve vitórias para todos. O Não ganhou nos resultados globais e na capital, Edimmburgo, conseguiu mesmo um expressivo 61,10%. Já o Sim foi ganhar em Glasgow e em Dundee superou a barreira dos 58%. A luta mais renhida foi em Inverclyde com, 49,9% pelo Sim e 50,1% pelo Não.

O referendo confirma também uma coisa: algo tinha que mudar na Escócia. A Escócia mantém-se no Reino Unido mas apenas porque Londres sacrificou alguns dos seus poderes, em prol de uma autonomia alargada. Cameron, que vence o desafio separatista, terá agora que vencer o desafio parlamentar ao estabelecer um calendário rápido e eficaz de transferência de poderes de Londres para Edimburgo.

O referendo mostra o apetite pela mudança com quase 85% do electorado a ir a votos. É certo que tudo parece que fica na mesma, mas não fica... E se Madrid, Roma e Bruxelas suspiraram por momentos de alívio foi apenas por momento. A Catalunha e a Flandres podem agora usar o precedente escocês para pressionar os governos centrais a fazerem iniciativas semelhantes... E não é certo que ganhe sempre o Não!

O referendo mostra também que não existem razões para se temer a democracia. A derrota do Sim não trouxe tumultos e desacatos, mas apenas uma aceitação consternada de que existiram mudanças menos profundas do que as desejadas. Mas a tónica do referendo é essa: no final nada ficará como dantes e Edimburgo torna-se mais autónoma.

O referendo não preconizou o divórcio de Edimburgo com Londres mas abriu a porta a outros divórcios mais penosos... Porque a ideia de Madrid anular a autonomia para prevenir o referendo na Catalunha, ou a ilegalização de referendos, como fez recentemente Roma, a uma iniciativa em Veneza, são caminho certo para o adensar de animosidades; para a crispação de posições e para um visão dicotómica de tudo ou nada...

É verdade que o referendo de ontem não preconizou o divórcio entre Edimburgo e Londres, mas ainda faltam as partilhas. A questão referendária está fechada, mas esta estória está longe de estar concluída. E o Fidalgo estará atento aos próximos capítulos. Londres tem a bola do seu lado... por agora...


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