D.ª Inglaterra decida-se, if you please...

Começam a ser cada vez menos interessantes os "gritos do Ipiranga" vindos de Londres. A cada proposta vinda de Bruxelas, ou de Berlim, que desagrada ao executivo de Cameron lá vem a ameaça do "Olhem que se não mudam isso saímos da União Europeia".

Na verdade, a maioria destes falsos "bater na mesa" são mais para consumo interno, do que para pressão externa. O governo do Reino Unido tem que gerir, com cautela, um eleitorado tendencialmente eurocéptico mas que sabe precisar da Europa. Um amor-ódio disfuncional, que explica estes falsos "bater o pé" que se esfumam em grandes nadas...

Desta vez, contudo, nota o Fidalgo duas curiosas novidades. A França quis vir a jogo e qual Paladina da Europa de Bruxelas disse ao Reino Unido que é hora de decidir se fica, ou não fica... E se for para não ficar que faça as malinhas o quanto antes. Grito pífio vindo de Paris, com um Presidente à procura de mostrar algum poder externo depois da devastadora dupla derrota eleitoral interna.

Segunda novidade. Um encontro de líderes juntando Londres, Berlim e Amesterdão (que tem ganho poder dentro da União Europeia) em Estocolmo. Os quatro líderes discutiram a liderança da Comissão Europeia, num verdadeiro acto Consular. Isto apesar de tal decisão depender (em teoria) da vontade de 28 Chefes de Estado, e de precisar de ser validada pelo Parlamento Europeu.

O institucionalismo euro-democrático esvaziado por um punhado de países sem peias em mostrar a divisão clara entre países com poder e países a quererem ter poder. O grito de Londres, farsa da política interna que (desta feita) causou algumas ondas de choque externas, revelou ainda a irrazoabilidade de se tentar politizar uma União que deveria ser técnico-administrativo-burocrática.

O mal da União Europeia é a tentativa, mais do que fracassada, de fingir que é uma espécie de mega-Estado federal (sabendo-se que a Federalização da Europa agrada pouco a uma larga percentagem dos Europeus). Neste ficcionar de realidades, o Parlamento Europeu foi dotado de maior poder, levando a uma duplicação (quase nunca harmoniosa) de funções entre o dito Parlamento Europeu e os Parlamentos Nacionais.

Mas a União pós-Tratado de Lisboa não se ficou pelo reforço dos poderes do Parlamento Europeu. Criou-se a figura do Presidente que, já se percebeu, não preside a quase nada. Um cargo, de resto, menos útil do que a já de si pouco útil Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros.

No meio desta insanidade quase que tragicómica, os gritinhos de Londres acabam por fazer algum sentido. Enquanto a Europa não assume a sua natureza técnico-administrativo-burocrática, abandonando o aventureirismo federalista, a racionalidade tenderá a ser escassa. Porque a Europa é muito linda, mas o eleitorado nacional é quem mais importa...


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