Vejo-te nas pequenas coisas Mãe...

É típico deste dia escrever verdadeiros manifestos sobre como a nossa Mãe é a melhor de todas; como se as mães competissem num campeonato invísivel em que a maioria parece conseguir chegar ao pódio. É típico deste dia presentear as mães, nem que seja com um simples postal que diga "Adoro-te!". É típico deste dia um amor fátuo, oco, com muitos rocócós que no dia a seguir se esquecem. O amor reduzido a um postal, três frases e dois beijinhos de circunstância.

Desculpem o Fidalgo, mas não alinho (mais) nisso. A minha Mãe nunca competiu para ser a Melhor de Todas; uma espécie de Miss Mãe. A minha Mãe nunca almejou um trono (apesar do filho monárquico) e uma coroa para exibir o seu lado maternal. A minha Mãe apenas quis cumprir-se; realizar-se, deixando que nós (a sua prole) se realiza-se. Relegada, por ela mesma, a um papel secundário é a guionista principal da minha vida.

Lembro-me, Mãe, de como és feita de pequenos gestos. De como, por exemplo, pelos 17 anos da Catarina (feitos a 17 de Outubro) lhe preparaste uma surpresa. Uma fita com 17 metros, escrita em dourado pela família e pelos amigos. Uma fita azul-escura, ladeada por duas bonecas simpáticas. Um marco! E feito por ti. Não foi um presente Channel, Versaci ou Storytailor e, contudo, vejo nele algo de alta costura uma espécie de mater chic!

Achei interessante, Mãe, o presente que há dias deste há Inês. De como deixaste que a imaginação te guiasse e com uma série de objectos banais fizeste beleza. Estes pequenos presentes, que não trazem etiqueta Nike, Adidas ou Reebok, trazem a etiqueta daquilo que tu és. Um festival de criatividade com um único intento: espalhar amor. E o amor não se vê na opulência e no fausto, mas no monumental sentido de um pequeno gesto.

Não esqueço, Mãe, como na minha última visita a Portugal deixaste uma rosa no meu quarto. Uma simples rosa. Uma simples rosa, colhida por ti. Um pequeno gesto. Um "Amo-te filho" silencioso; delicado como o perfume dessa rosa. E não esqueço como preparaste, com afinco e ternura, aquele pequeno-almoço amargo, em que chorámos com as palavras entaladas na garganta, quando a 15 de Setembro saí de Abrantes... rumo a um novo ciclo.

É isso que mais gosto em ti, Mãe. Esse teu lado terno; feito de pequenos momentos; feito de gestos cheios de leitura para quem se dispõe a lê-los. Falas menos por palavras, que sempre me sairam mais fáceis a mim, e mais por acções. E eu leio-te. Vejo como te preocupas sempre. Como, apesar de orgulhosa por tudo o que já fizemos, por tudo o que já provámos, ainda temes que possamos não ser felizes. Que as coisas possam não correr bem.

Mas Mãe a nossa felicidade começa em ti. É isso que nem sempre conseguimos dizer. Problemas? Desafios? Maus momentos? Vamos ter sempre. Já nos habituámos a isso. Mas queremos que andes feliz, sem te preocupares em demasia. Já lutaste por nós, com a força de uma guerreira. Agora é a nossa vez de lutar por ti; é a nossa vez de fazer os pequenos gestos; é a nossa vez de colocar a rosa no teu quarto, ou de preparar o teu pequeno-almoço.

A nossa felicidade começa em ti. Hoje é o Dia da Mãe, a celebração (ou comercialização?) dessas mulheres extraordinárias que nos deram vida. Hoje é o Dia da Mãe! Mas e amanhã? Amanhã é o dia da minha mãe, e depois, e depois, e depois, e depois. Porque celebro-te todos os dias; porque te vejo em pequeninas coisas, seja nas frases carinhosas que me deixas no email ou no "adoro-te filho" com que assinas mais uma carta.

FELIZ DIA DA MÃE... E amanhã a celebração continua!


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