E amanhã serão 201...

200 dias! Estou a viver há 200 dias na Turquia (descontando já as três idas a Portugal). Olho para trás e sorrio. São 200 dias! Não que o facto de hoje marcar 200 dias de vida por aqui mude alguma coisa, que não muda. Mas é um marco simbólico; um bom momento para pensar no que fiz e para projectar tudo o que quero fazer.

Curioso mundo este, ontem (aos 199 dias) já sentira algo especial. Ontem, pela primeira vez desde que aqui trabalho, voltei a entrar no auditório onde tudo mudou. Ontem voltei a entrar no auditório onde, em Maio de 2013, dei uma conferência, que motivou uma reunião, que gerou um convite, que se transformou num contracto, que levou (em meados de Setembro) a que chegasse e começasse a viver o primeiro destes 200 dias.

Lembro-me perfeitamente como, antes da conferência, estava nervoso. Depois de meses em busca de uma oportunidade; depois de meses de recusas, de quase sins, de quase nãos e de muitos silêncios, chegara a hipótese de mostrar o meu valor. O convite era apenas para dar uma conferência, no âmbito do Festival da Juventude (que celebraremos, aqui, para a semana). Mas eu sentia que podia ser algo mais...

Preparei-me, como sempre faço, o melhor que pude. Mudei a apresentação umas cinco vezes; pensei na roupa que ia levar umas dez vezes; pensei no que ia dizer umas quinze vezes... Não queria deixar o acaso tomar conta da situação. Na minha cabeça tudo foi escrupulosamente ensaiado. E, mesmo assim, lembro-me de descer as escadas do auditório com o coração a palpitar, enquanto muitas dezenas de olhos me seguiam.

Fui apresentado em turco; só percebi o país de origem (Portekiz) e o meu nome pronunciado com a charmosa melodia da língua turca. Fez-se um pequeno silêncio. E comecei. A conferência correu como planeara e logo terminou, tão rápida como os flashes das máquinas fotográficas presentes no auditório. E agora?

O Reitor da Universidade estava visivelmente satisfeito. O Presidente da Faculdade tinha um sorriso no rosto. O director do departamento de Relações Internacionais também parecei contente. O Presidente da Faculdade levantou-se e ofereceu-me um pequeno souvenir (um troféu se quiserem!) e convidou-me para me juntar a ele (mais tarde) numa pequena reunião.

Eu estava satisfeito. Cumprira o que ensaiara. Fizera o meu papel, mas sentia que ainda havia mais para fazer. Fui ao quarto de hotel e, célere, mudei de roupa. Não porque precisasse, ou porque quisesse impressionar, mas para me renovar. Para sentir que, a partir dali, era tudo novo.

Mudei de roupa e segui para a reunião. Fiz o caminho que hoje, aos 200 dias, me é tão familiar, mas que então me era estranho. E lá nos reunimos. Veio o chá, as delícias turcas e a conversa lá fluiu. E no final eu sorria: queriam ficar comigo! Estavam interessados em dar-me aquela oportunidade que o meu país, teimosa r tristemente, não queria dar-me.

E assim se começaram a desenhar estes 200 dias. Foi um Verão estranho, em que eu sabia que devia aproveitar tudo porque as coisas iam mudar. E assim fiz. E Junho foi-se. Julho passou. Agosto finou-se. E em Setembro lá saí de Lisboa rumo a estes 200 dias. E apesar das saudades, do que ficou para trás, do que não pude ver ou fazer, estou feliz.

São 200 dias que mudaram tanta coisa, que ainda é cedo para perceber a importância dos mesmos. São 200 dias que me permitem sonhar com mais 200 e planear, e projectar, e trabalhar, e realizar-me. São 200 dias que não teria tido no meu país... São 200 dias hoje e amanhã são 201...

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