E aos 40 anos, onde está o "cheiro" dos cravos de Abril?

40 anos! Amanhã celebram-se 40 anos do 25 de Abril. 40 anos dessa Revolução ímpar que com pouco sangue (que essa do "sem sangue" é pura mitologia) transformou o país. É um erro, se não mesmo uma injustiça, tentar minorar o que a revolução conseguiu. O 25 de Abril foi um sucesso. O pós-25 de Abril é que parece não estar correr tão bem...

Nessa manhã de 1974 os militares mostraram uma audácia e coragem ímpar. Louvem-se os militares há muito injustamente vilipendiados. Até podemos dizer que o Regime da II República (o tal do Estado Novo) acabaria sempre por cair, que estava podre, que tudo não passou de uma inevitabilidade. Mas também me parece que se ninguém soprar os castelos de cartas não se desmacham! E os militares (e bem!) sopraram e espantaram as cartas. Nascia a III República.

É isso que amanhã se celebra! São ideais; são projectos; são vontades; são desejos; são esperanças... São vontades de mudar para um algo melhor, que sendo inalcançável (a utopia da sociedade perfeita, será sempre isso mesmo, uma utopia) não deve deixar de ser perseguido. Não conseguimos alcançar a perfeição do todo social, mas podemos tentar minorar as imperfeições do mesmo...

O 25 de Abril é também prova de que nenhum regime sobrevive sem "ouvir as ruas"! As tais ruas que parecem ter sido purgadas do Parlamento (dita Casa da Democracia), onde se desfilam regulamentos, fazem pulir discursos e se cristalizam protocolos. É bom ter regras; é péssimo ficar prisioneiro das mesmas. O 25 de Abril é Liberdade e nada mais estranho do que ter regras que coartem quem quer falar sobre a mesma...

O 25 de Abril é (ou deveria ser) inspiração! Devemos procurar libertar-nos dos medos; começando pelos nossos medos e partindo para os do colectivo social. Devemos tentar olhar para o bem comum e fazer diferente, quando o fazer igual (está visto!) já não resolve; já não soluciona. Mesmo que isso faça descarrilar os exceis e os ratings. Porque há vida para além dos números, dos balanços, dos saldos, das contas correntes.

O 25 de Abril é poder e querer Ser outra vez! Estamos tão anestesiados pela ideia de catastrofismo social, de caminho para o abismo; estamos tão domesticados pelo brilho das luzes mediáticas que parece que esquecemos o mais importante: poder Ser. Porque Ser não basta; há que poder Ser. Texto ermético este? Talvez! Demasiado sonhador? Talvez! E depois? Deixem-no ser ermético e sonhador, se é assim que estes dedos (que não buscam consensos!) querem falar...

O 25 de Abril é Liberdade para lembrar o bem feito e o que ainda de bem está por fazer. Para lembrar a cada um de nós que a revolução continua. E longe, com o coração na pátria e o corpo fora dela, o 25 de Abril parece amargo quando para ter a Liberdade de trabalhar, tenho que abdicar de livremente estar com amigos e familiares. O 25 de Abril parece amargo, quando para ser livre de crescer tenho que me libertar (à força!) do meu lar...

O 25 de Abril não fracassou. Fracassaram os Homens que lhe seguiram! E fracassaram os homens e mulheres que não souberam afrontar, por cobardia ou conformismo, os que minaram a Revolução. Não sou apologista de um Revolucionarismo-proto-che guevariano, mas talvez seja preciso pensarmos de novo em mudar. E a resposta para o Futuro pode estar escondida no nosso Passado. Digo eu, claro...

VIVA O 25 DE ABRIL!

P.S. E amanhã vou, livremente claro, trabalhar...



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