E antes dos 200 dias, regresso...

Há dias dei por mim a contar os dias que já vivi na Turquia, tirando as duas vezes que já vim a Portugal (em Janeiro e em Fevereiro). E dei por mim com quase 200 dias de vida na Turquia. É uma pequena efeméride que não tem importância, para além daquela que eu lhe der... Mas para mim conta. É uma efeméride minha. Trivial? Sem dúvida. Mas o que é da vida, sem as suas trivialidades?

São quase 200 dias de experiência. Faço de cada dia um novo desafio; porque assim sei que no final tirarei partido de tudo; porque assim sei que valerá a pena; porque assim evoluo enquanto disfruto; porque assim ocupo a mente e como que drogo a saudade. Ela lá está... Sempre matreira! Pronto para atacar quando menos esperamos!

Mas já percebi que quando estou com adrenalina a correr-me nas veias; quando me concentro em vencer-me a mim mesmo, transformando cada chegada numa nova partida, ela deixa-se serenar. Mas eu sei que ela não desaparece. Se ser Português é ser/ter Saudade então sou português! Mas nem só de saudade se têm feito estes quase 200 dias.

A Turquia tem-me dado muito! Sinto hoje que sou um profissional muito, mais muito, melhor do que era há apenas uns meses. As dificuldades de ensinar numa língua estrangeira e o embate cultural obrigaram-me a fazer uso da criatividade e a ser arrojado. E o arrojo, pela primeira vez parcimonioso e contido, tem gerado frutos muito interessantes. Se sou mais ponderado, devo-o à Turquia.

A Turquia ensinou-me a ser ponderado. A ouviu primeiro, a ouvir em segundo e em terceiro e só depois falar. Eu! Que em Portugal nem deixava acabarem as frases para "atacar" logo com três ou quatro argumentos. Agora espero serenamente, ouço, filtro, destilo. Combino ideias, penso no impacto das mesmas, edito-as, transformo-as e só depois as liberto.

A Turquia ensinou-me a verdadeira noção das palavras Diferença e Minoria. Porque sou diferente de todos, apesar da minha aparência me facilitar a "fusão" social, a falta de domínio avançado da língua torna-me sempre diferente. Não são raras as noites que acabo a sorrir porque, apesar de estar rodeado de gente que conversa velozmente, estou sozinho!

E sou Minoria! Na única cidade da Turquia que deu aos Islâmicos Conservadores do Partido da Felicidade 20% de votos nas eleições regionais, não ser muçulmano é mais complicado do que pode parecer. Sou sincero, o respeito pelo facto de não ser muçulmano existe. Mas os apelos para que "me salve" e para que "deixe Ele falar comigo" vão sendo feitos.

E ser minoria é tudo menos fácil! E nesses momentos, em que nos sentimos minoria, a Saudade cresce, engrandence e galopa sobre mim... Acabo, não raras vezes, a ouvir Mariza, a trautear Ana Moura, a pensar em Camané e a deixar escapar lágrimas e sorrisos para o vazio do meu quarto. E a Saudade alimenta-se de mim enquanto pode; antes que eu a drogue com mais adrenalina e a serene...

São quase 200 dias e agora faço pausa! Este post sai do meu quarto de hotel em Coimbra. Vim em trabalho, para uma visita flash, para um novo regresso a Kirikkale onde completarei os 200 dias e seguirei em frente. Mas antes dos 200 dias faço pausa! Venho respirar lusitaniedade. Venho buscar um bocadinho de portugalidade e depois parto de novo. Antes dos 200 dias pausa, venho ao meu cantinho e logo logo regresso...


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