Para onde vais Europa Unida?

Por estes dias, pela Turquia, debatemo-nos com a falta de liberdade (pelo menos formal!) em comunicar-nos por meio das redes sociais. É estranho acordar e sentir que aquilo que ontem era uma facilidade se torna, de súbito, uma impossibilidade. A palavra Liberdade, no ano em que Portugal celebra 40 anos da sua libertação do jugo da Ditadura, ganhou de repente um novo colorido. Afinal, aprecia-se melhor o que não se tem!

Mas se a Turquia está sem Liberbade plena no reino virtual, a Europa parece caminhar para uma ausência de Liberdades nos planos político e social. O avanço preocupante da Extrema-Direita em vários países é disso mesmo prova. E o último rúgido da besta, que também acordou antes da Segunda Guerra Mundial, foi dado em França com a Frente Nacional a registar a melhor votação de sempre.

Descontentamento com o governo PS, encabeçado pelo Sr. Hollande, terá conduzido ao resultado impressionante da Frente Nacional. Isso e uma Europa demasiado preocupada com números, com o alinhamento de tabelas de excel, com a frieza dos cálculos e pouco interessada no que devia interessar mais: nas pessoas. Uma Europa feita de Europeus, mas onde os Europeus pouco contam.

Este não é o primeiro sinal de que a Europa da União vive dias de desconforto. Na Búlgaria, por exemplo, os protestos contra o gabinete de Oresharski que começaram em Junho do ano passado ainda duram, com acções de rua, tomada de edifícios públicos e acções nem sempre pacíficos que mostram uma sociedade exaurida pelo formalismo democrático que, sem cultura, cedo se esgota numa parada de eleições efémeras que não apaziguam a turba.

Na Hungria, em 2011, Viktor Orban mudou a Constituição em vigor. O novo documento, entre outras coisas, passa a definir o que é uma Família (casal heterossexual unido pelo matrimónio), proíbe campanhas políticas na televisão e na rádio e dá às forças de segurança o poder de prenderem os sem-abrigo. É verdade que a Europa Unida até apontou o dedo a um dos seus mais novos membros, mas fez apenas isso. Apontou o dedo e depois assobiou-se para o lado.

Na Grécia a extrema-direita conseguiu 18 assentos no Parlamento e promessas de ir a votos nas próximas eleições. E apesar de a "Aurora Dourada" estar imersa numa série de escândalos políticos e processos judiciais as últimas sondagens mostram que, pelo menos, 8%-10% do eleitorado votaria na "Aurora Dourada". Um número preocupante que pode ser apenas a ponta do icebergue...

Na Áustria a extrema-direita tem aparecido em segundo lugar em todas as sondagens para o Parlamento Europeu e a mesma extrema-direita conseguiu resultados expressivos no último sufrágio nacional, de Setembro de 2013. Para uma Europa que parece gostar tanto de números; estes são números que deviam ocupar o tempo de muito boa gente... A questão em cima da mesa: O que se passa com a Europa?

Em tempos de instabilidade de falta de confiança nas respostas tradicionais, nos partidos de esquerda e de direita, as populações tendem a optar pelos extremos. E, curiosamente, a extrema-direita tem tido uma maior capacidade mobilizadora, após ter percebido que uma classe de políticos "elegantes e bem-falantes" que não perdem o temperamento, mas não cedem nos ideais, atrai mais gente, do que o habitual gang de skinheads... A extrema-direita adaptou-se!

Esta Europa Unida que se preocupa apenas com números, com o efeito orgásmico das políticas de austeridade nos tecnocratas de Bruxelas, parece perder-se... Afastar-se da sua mensagem de Democracia e de Inclusão. Esta Europa agora até corre a assinar acordos com governos ilegítimos, pejados de gente da extrema-direita. Esta Europa parece ter-se esquecido do seu próprio passado, que não aconteceu assim há tanto tempo.

É a esta Europa Unida que, tendo Twitter parece não ter o que mais importa, vejo repetirem-se erros; precipitarem-se más escolhas e deixarem-se arrastar para joguinhos de poder em que a Europa Unida nunca ganha. E se usássemos a racionalidade por uma vez que fosse?

Não acredito no Apocalipse Europeu, porque a História mostra-nos um continente resiliente. Mas seria tão melhor se pudessemos, por uma vez, evitar uma transformação pelo sangue... Porque a transformação virá, mas o como está nas nossas mãos Europeus! E por isso insisto: Para onde vais Europa?


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