Feliz Dia, Pai!

Foram poucos os Dias do Pai que passámos juntos, por vicissitudes da vida. Mas lembro-me que sempre que podias aparecias nas festinhas do infantário. Tenho até a ideia de te ver fardado em algumas dessas ocasiões. Eu sabia que o meu pai não vivia comigo, como acontecia com os meus amigos, mas também sabia que ele apareceria na festinha: magia!

Não foram muitos os Dias do Pai que passámos juntos, mas sempre tive um prazer especial em fazer presentes para marcar o dia. Como se enquanto fazia o presente (eu que sou de parco talento em actividades manuais!) tu estivesses ali comigo. Como se enquanto o presente ganhava corpo, eu pudesse ver aquele que eu não via diariamente. E lembro-me de sorrir sempre que te entregava os presentes.

Depois crescemos! E apesar de menos barreiras, foram maiores as dificuldades. É interessante como vivemos sempre tão perto uns dos outros, mas tornamos as nossas vidas num infinito de longitude. É curioso como a agenda nos domestica, em vez de sermos nós a comandar a agenda. E vão-se dando desculpas e os dias não se assinalam. O amor fica, nunca duvidei, mas não é regado! E, como qualquer planta, só regado o amor se pode tornar mais viçoso.

Ontem quando me deitei, achei que o dia de hoje seria mais um. Afinal já me devia ter habituado a celebrar o Dia do Pai noutros dias; afinal até já estiveste em Cabo Verde, em missão, enquanto o Dia do Pai se desenrolava. Nesse dia lembro-me que falámos várias vezes de ti. Ainda hoje não sei se isso foi celebração, ou egoísmo de não te termos perto...

Se estivessemos acabaríamos por arranjar desculpas para não te ver, mas não te ter perto era o que mais custava. Queríamos poder escolher entre ver e não ver. Sem perceber que escolher é um luxo que não nos assiste. Devíamos aproveitar o que temos, para não lamentar depois o que não temos. Mas por muito que saibamos isso, nunca o faremos: Humanos! E por tudo isso já me devia ter habituado!

Mas não habituei! E hoje custou-me mais. Porque desta vez és tu que não me tens por perto. Desta vez mesmo que eu queira encurtar distâncias torna-se complicado fazê-lo. Desta vez mesmo que eu queira deitar a agenda para a fogueira, a distância continuará lá... Desta vez mesmo que tenha vinte e cinco horas para estar contigo, quando o dia só tem vinte e quatro, a distância continuará lá...

Custou-me mais não por estar longe, mas por perceber a estupidez dos anos em que não encurtei distâncias, que se podiam encurtar! Por perceber como desperdiçamos momentos, em troca de compromissos e business drinks. Por perceber em como deitamos para o lixo o calor das emoções, pela frieza de um simpósio internacional. Por perceber que este ano a distância venceu a luta! Se eu a queria usar como desculpa, pois aqui a tenho...

Tens uma forma curiosa de mostrar que gostas de mim! Dizes poucas vez em palavras o que sentes e no afã de querer proteger construiste uma imagem militarizada de ti mesmo. Mas, não penses que me enganas, tens um coração que se derrete como chocolate nos dedos de uma criança. Por medo de perder, de novo, tiveste sempre receio de querer conquistar e por isso parece que ficámos no limbo.

Ficámos sempre com coisas meio-ditas, meio-sentidas, meio-explicadas. Ficámos sempre numa fronteira tão delicada como a bela Bifrost que conduz os Deuses de Asgard aos Humanos de Midgard. Ficámos sempre numa fronteira ténue, que sabemos ser difícil de transpor. Como se uma barreira de cristal, tivesse a resistência do betão. Mas o amor está lá, o orgulho está lá, o gostar está lá... E, no ano em que sou vencido pela distância, as palavras são o único modo de dizer, não hoje mas sempre:

FELIZ DIA, Pai!


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