Então mas não se queriam consensos?

A vida política em Portugal parece-me, anda tão desorientada quanto a metereologia por estes lados. Por aqui, no mesmo dia, temos neve, chuva, vento, sol. Por Portugal, no mesmo discurso, temos apelos ao consenso e acções anti-consenso... Ou seja chama-se pela chuva, mas vai-se para a rua com manga curta a achar que fará sol!

O actual governo chegou à governação com um conceito memorizado: consenso! Essa palavrinha à qual Habermas devotou alguma da sua sapiência foi memorizada apenas, porque se fosse aprendida ter-se-ia percebido desde cedo que consenso não implica unanimismo; não implica que nos conformemos todos e sigamos no rebanho da padronização de ideias e ideais!

O actual governo queixou-se, e com alguma razão (diga-se!), que a Oposição não estava aberta ao diálogo construtivo para se atingirem os tais consensos. Dizia o governo, com razão uma vez mais, que se optara pelo populismo fácil e por um vazio de propostas concretas. A Oposição, do tal arco governativo (seja lá o que isso for), descobrira a "insensibilidade social" e não queria outro argumento...

O actual governo, que tem um curioso Vice-Primeiro-Ministro que antes de o ser de demitiu de modo irrevogável (da sua posição Ministerial) para logo se revogar tudo, porque o poder vem primeiro e o cumprimento da palavra (a tal ética política!) vem depois... Muito depois... Se chegar a vir, claro! Que o Fidalgo gosta de ver o melhor em todos!

A Oposição, que precisa é de arrojo e audácia e não de Segurança, lá foi cedendo a tentar falar com o governo que tanto se queixara. Mas cedo se percebeu que o diálogo pretendido seria mais ou menos um monólogo, a várias vozes. Com um timoneiro a dizer o que pensa (timoneiro não em S. Bento, mas em Berlim!) e todos os outros a acenarem; porque não há alternativas. Ora meus senhores, alternativas há sempre... Pode não se gostar delas, mas elas existem!

E agora que o período da Tempestade se aproxima do fim (dizem, por aí!), começa a discutir-se o dia seguinte. O governo e o seu protector de Belém, diz que se chama Presidente (mas tem presidido tão pouco e protegido tanto!), vão falando que o dia seguinte se deve fazer a solo! Sem ajudas de ninguém, que a malta já se esforçou muito e agora tudo se encaminhará... Porque depois de tanto se destruir, algo agora terá que espontamente surgir! Fátima nem fica assim tão longe!

Um grupo de vozes, com visões diferentes, percursos diferentes, ideologias diferentes, ouviu o governo! Ponderou! E chegou a um consenso! Discordam! Organizaram-se em manifesto, protesto que não calcorreia ruas mas linhas, que puseram ao dispor. Estava em onda de consenso, queriam ver se o governo também estaria. O governo discorda do consenso. Nem consenso lhe chama... Porque é um consenso divergente! Porque é uma alternativa, e alternativas não se ponderam!

O consenso em Portugal é assim uma espécie de Abominável Homem das Neves! Ser mitológico, que muitos buscam usando os caminhos já usados... Porque procurar alternativas é mais complicado... Ser mitológico que todos invocam, até ao dia em que o veêm. Nesse momento o sonho do "avistamento" passa a pesadelo. E o Abominável Homem das Neves deixa de o ser, porque quem o buscou afinal não o queria encontrar.

O único consenso, é que não se encontrará consenso que consensualize tudo. Porque não se percebe que consenso implica tensão pela diversidade. Que consenso implica competição de ideias divergentes, que na sua colisão se transformam em algo novo. O Fidalgo não deixa de achar caricato, tragicamente caricato, que quem tanto queria consensos, queira agora minimizar o valor dos mesmos. Na próxima vez, aconselha-se a quem Governa prudência nos desejos!


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