De tanto brincar, ainda se magoam...

Soube-se na semana passda que o PSD/CDS-PP, parceiros governamentais (mas curiosamente nem sempre aliados parlamentares!), decidiram coligar-se para as eleições de Maio ao Parlamento Europeu. A união só surpreendeu quem pouco percebe de política nacional, ou quem se quis deixar surpreender...

Ontem, na apresentação do seu manifesto eleitoral, o PSD/CDS-PP tentou "piscar" o olho ao eleitorado jovem, com um manifesto que se resumo a 101 ideais fáceis de partilhar nas redes sociais como fizeram questão de frisar. A manobra podia ser interessante, inteligente até, mas não é o caso. O manifesto resume-se a uma tentativa de hiper-mediatizar mensagens, cujo conteúdo (a existir!?) fica aquém do desejável.

O "casal" PSD/CDS-PP parte para as eleições Europeias com a intenção clara de mobilizar o eleitorado jovem, o mesmo eleitorado cujas taxas de desemprego efectivo são superiores a 35% e o mesmo eleitorado que poderá (irá!?) punir o actual Executivo com o voto no PCP ou no BE, ou ainda em outras formações mais pequenas que se apresentem às Europeias... como o PNR!

Apesar de o PNR não ser um candidato previsível a ganhar um lugar no Parlamento, por via do voto português, é importante lembrar que este partido tem aumentado, de modo consistente, de eleição para eleição, o número de votos.

O voto no PNR torna-se assim numa possibilidade real, especialmente num momento em que a esperança tarda a voltar e em que o diccere e o faccere, dos partidos do "arco governativo" (expressão que infelizmente virou moda!) não estão alinhados...

Afinal num país ainda abraços com os efeitos avassaladores da hiper-austeridade-tecnocrática e com cortes diários, faz pouco sentido que a apresentação do manifesto não tenha sido feita num local mais modesto, que não uma unidade hoteleira de luxo.

O Fidalgo está a ser picuinhas? Talvez! Mas nestes momentos de sufoco orçamental, e alta tensão social, os pequenos gestos simbólicos dizem mais, do que grandes discursos cheios de metáforas e de citações (quase sempre fora do contexto) dos "Lusíadas" (não foi o caso, desta vez)!

Nesta história toda, o Fidalgo não esqueceu o PS. Seguro parece apostado em perder as eleições Europeias e em deixar António Costa tomar conta do partido. Escolheu mal, e tarde, o cabeça de lista e ainda não apresentou manifesto. Tem tido dificuldade em articular um discurso coerente, que fuja do "aponta o dedo" e da demagogia saloia. Seguro mostra inconsistência própria de quem viveu dentro da tecnocracia partidária e não experimentou mais do mundo...

O Fidalgo pode parecer alarmista, mas a verdade é que num momento em que a Europa da União se depara com uma subida da extrema-direita em vários países (França, Hungria, Grécia, Dinamarca, Bélgica, Finlândia, Países Baixos, Polónia, Austria, Bulgária e Alemanha), parece-me pouco prudente que o PSD/CDS-PP se entretenha mais com os aspectos estilístico-o-interactivos do seu manifesto do que com o conteúdo. Parece-me grave ter um PS meio-perdido e meio-atordoado.

Se o Parlamento Europeu for literalmente invadido, por via do voto popular, por membros da extrema-direita anti-europeísta então o Parlamento Europeu tornar-se-á num anti-Parlamento e será destruído por dentro. Os pilares frágeis da Europa da União têm tremido muito nos últimos 3/4 anos e correm agora riscos de entrar em tal estado de degradação, que restará apenas a implosão...

E enquanto o cenário se torna mais complicado, enquanto a serenidade se vai esfumando, por terras lusitanas vai-se brincando aos manifestos e sonhando com a governação, sem se saber bem o que governar implica. Se é seriedade e alto valor patriótico que se pede aos portugueses perante a hiper-austeridade, então é com seriedade que se devia comportar quem governa... e quem tanto quer governar...


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