Os 'affairs' de Hollande serão res publica (coisa pública)?

A vida privada de François Hollande, Presidente da República Francesa, anda por estes dias nos escaparates dos jornais e das revistas. A grande questão, que começa a dividir leigos e analistas, é saber se a vida pessoal do mais alto representante da República é res publica (coisa pública) ou não. E a questão, como quase sempre nos factos sociais, é mais complexa do que parece.

A historieta tem, de resto, contornos de telenovela que agradará ao espectador. Um Presidente com filhos da ex-futura-grande-promessa da política francesa; com uma namorada no Palácio do Eliseu (a mesma senhora que deu entrada no Hospital, após saber a notícia) e com uma amante-comparsa que queria manter nas sombras... Mas deverá isto, a vida pessoal de um Presidente, ser notícia, ou não?

Podemos argumentar taxativamente que não! Que a vida de Hollande apenas a Hollande pertence, e que o caso está nos media por pressão de figuras ligadas ao UMP de Sarkozy. O argumento seria válido, não fosse o facto de vida privada de Sarkozy ter sido usada, contra o próprio, pela esquerda caviar francesa como meio de descridibilizar o então Presidente da República Francesa.

Nestas coisas, se querermos pugnar por alguma equidade (que justiça é algo bem mais complicado de se alcançar!) não podemos achar que Sarkozy merecia ter a vida privada nos media e Hollande, coitadinho, tem que ser resguardado. As acção em política tendem a gerar reciprocidade. E hoje quem aponta o dedo, amanhã será apontado...

Podemos argumentar taxativamente que sim! Que a vida de Hollande tem que ser escrutinada, porque conhecer o seu lado bon-vivant diz-nos muito do seu carácter. Porque o lado juvenil desta paixoneta, de quem parece não perceber que é apenas o poder que o torna atractivo (que Hollande está longe de ser um Casanova ou um James Bond), demonstra a impreparação de quem não devia ser Presidente.

François Hollande, relembre-se, ia ser um paladino da luta anti-austeridade; um cavaleiro em demanda por maior justiça social e para devolver a tal sensibilidade social, de que Seguro tanto fala (sem saber bem o que é!). Hollande ia ser uma força de oposição ao domínio de Berlim. O que se viu? Que Hollande, após a eleição, amoleceu na presença de Merkel, como os adolescentes fazem quando estão perante os "crescidos".

O Hollande dos affairs fugidios numa casa habitada por gente da máfia da Córsega é o mesmo Hollande que tirando um dois sinais simbólicos, pugna a sua actuação por medidas demagógicas sem real aplicação prática... A última das quais a taxação abusiva dos "super-ricos" que levou ao êxodo dos mesmos para a Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e até Rússia.

Esta é uma daquelas questões, tem em crer o Fidalgo, sem resposta certa. Feita de meias-verdades e meias-respostas, que dependerão do posicionamento de cada um. Parece ao Fidalgo que o eleitor merece conhecer a moral e o carácter do mais alto representante da República Francesa. Mas entre o conhecer a moral e o carácter e o circo mediático, de estilo abutre, vai um fosso de distância...


Comments