Conquistas celebram-se com conquistas!

Acordei com um nó no estômago. Talvez seja a ansiedade de que passem os dias, mas acordei demasiado cedo, demasiado rápido e com o estômago demasiado enrolado. Exactamente como há um ano atrás! Há um ano atrás acho que mal dormi, na noite de 9 para 10 de Janeiro. Terminava um ciclo: ia defender o Doutoramento e se tudo corresse bem concluiria o projecto que me ocupara durante quatro anos.

Lembro-me de como estava moderadamente calmo. Mentiria se dissesse que a pressão não me atacara, e o leitor não precisa de mentiras. Se não for para ser sincero, não faria sentido escrever. Mas fujo ao assunto. Lembro-me de como só almocei meio-prato, porque o estômago (lá está!) tinha um nó. E lembro-me que os nervos me assaltaram nos dois minutos que antecederam a defesa. Depois tudo correu pelo melhor e lá consegui chegar ao Olimpo.

Hoje, enquanto olhava para as 6h43 que marcava o relógio pensei: como posso celebrar a conquista, que me permitiu outras conquistas? Como posso marcar o dia em que subi ao Olimpo? Com uma caminhada até Asgard, pensei eu. Uma conquista celebra-se com outra conquista. É assim que faz sentido. Lembrei-me que na noite anterior terminara de escrever um artigo, portanto essa conquista ficara fora de mão. E depois relembrei-me da ida às compras...

E porque não? Tomei o pequeno-almoço; instalei uma aplicação no tablet que traduz inglês-turco e turco-inglês; arrumei no bolso do casaco um pequeno manual com frases básicas em turco. Tentei praticar a pronúncia, mas sozinho como estava tudo me soou meio estranho. Olhei-me ao espelho. Hesitei por duas vezes. E se corresse mal? E se a conquista fosse antes um fiasco? E se nenhum dos planos se cumprisse? O que faria se ficasse sem conquista? Se arruínasse a celebração da conquista passada?

Olhei outra vez ao espelho e serenei o medo com quatro borrifadelas de perfume... Fiz uma pausa... Melhor que sejam cinco borrifadelas, para dar sorte. Desci as escadas do prédio determinado: iria até ao Centro Comercial e compraria chá para oferecer e quiçá uma camisa. Seria complicado? Com certeza... Mas o Doutoramento também o fora e eu tinha conseguido. Porque não conseguiria chegar a Asgard, quando já tinha vislumbrado o Olimpo?

Em frente! Desci duas ruas. Virei à esquerda. Voltei para trás. Desci mais uma rua. Virei à esquerda. É bem verdade, só se encontra quem se deixa perder. Vi as portas automáticas de vidro abrirem-se de par em par e entrei. Uma, duas, quatro, seis, oito... Oito latas de chá encheram o meu cestinho de compras. Fui em passo lento até à caixa. Uma jovem nos seus 18-20 anos cumprimentou-me e eu respondi de volta. Pedi aos Deuses que ela não perguntasse mais nada, mas ela perguntou. Claro!

Os Deuses têm sentido de humor, o que posso fazer?... Como não entendi uma palavra do que ela me dissera, com um sorriso respondi "hayır" (Não). Ela disse o preço "yirmidört" (vinte e quatro); eu entreguei duas notas, uma verde e uma laranja. Na volta, ela deu-me uma moeda prateada no centro e dourada no rebordo. Eu agradeci e segui para a loja de roupa. Entrei na primeira que vi e saí num ápice. Ia fazer uma conquista e não ficar de castigo, preso num mundo infinito de cinzentos e castanhos.

Na segunda loja tive mais sorte. A colecção agradou-me. Vi umas peças que gostei. Andei pela loja, qual explorador. Voltei às primeiras peças que vira. Procurei o meu número, que encontrei sem dificuldade, e pensei para mim: "Tenho que experimentar estas três!" Chamei, com um aceno discreto, um jovem que trabalhava na loja. Ele olhou para mim, como quem vê mais um cliente. Eu olhei para ele, como quem vislumbra o Minotauro. E nem estava num labirinto.

Respirei fundo e de repente, os dois segundos que demorei a falar, pareceram duas gerações. Vi Invernos e Verões atravessarem-se perante os meus olhos, enquanto a língua se preparava para dizer a frase que eu vira no tablet: "Soyunma kabini nerede?" (Onde fica o provador?). Ele explicou com palavras, o que eu apenas entendi por via dos gestos. Espreitei o manual e soltei um "Çok naziksiniz" (É muito simpático da sua parte) antes de desaparecer dentro do cúbiculo do provador.

Todas as camisas ficaram perfeitas em tamanho, mas só gostei a sério de uma. Não foi amor à primeira vista, mas gostei de me ver com a segunda camisa. Saí do provador determinado a terminar a saga, com o meu tosão dourado já escolhido. Avancei para a caixa e com determinação na voz perguntei: "Bu ne kadar?" (Quanto custa isto?). O jovem respondeu. Paguei. Saí da loja. E sorri!

As conquistas celebram-se com conquistas. Há um ano atrás eu conquistava o meu Doutoramento, pode dizer-se que conquistava a minha independência académica. Agora conquisto-me a mim mesmo. Desafiando-me passo a passo e, por enquanto, vou superando os desafios. As conquistas celebram-se com conquistas e por isso sei que no próximo 10 de Janeiro terei nova demanda pela frente... Mas até lá há muito ainda para ser conquistado!

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