Zangam-se as comadres... à la turca!

É talvez a primeira vez que o Fidalgo vive um escândalo de dimensões enormes a acontecer fora de Portugal, com o Fidalgo fora de Portugal... Com o Fidalgo no país do escândalo. Pela primeira vez o Fidalgo pode avaliar a importância dos contextos e, neste caso, o contexto é de suma importância.

O escândalo de corrupção que envolve o Halkbank e conta já com uma lista de suspeitos na casa das sete dezenas (e ainda a procissão nem chegou ao Adro!) é grave porque fere a credibilidade das Instituições governativas turcas, afinal até filhos de Ministros estão envolvidos.

O escândalo é grave porque revelou uma rede de corrupção numa escala anormal, porque sejamos honestos os turcos (como os portugueses) há muito que desconfiam da idoneidade de certas instituições. Mas nunca se pensou em algo com esta escala. E acreditem espanto é a palavra de ordem nas ruas. Seja em Ankara, Istambul, Çanakkale, Kırıkkale, Izmir ou Konya.

Mas o escândalo é apenas a cortina de fumo para um braço de ferro entre os dois senhores que dominam a vida politica nas terras que foram conquistadas por Mehmet II: Erdoğan (actual primeiro-ministro) e Gülen (líder de um poderoso movimento islâmico moderado). O escândalo é, antes de mais, um jogo de xadrez que ainda agora começou...

Os dois senhores, curiosamente, foram aliados até há uns dois/três anos. E não sendo possível afirmar que Gülen foi indespensável nas três vitórias de Erdoğan, a maioria dos analistas políticos turcos concordam que sem o apoio tácito de Gülen a vida do actual primeiro-ministro podia ter sido menos fácil.

A razão da cisão entre os dois ainda está por entender, mas o jogo está em curso. Nos tempos mais recentes conto duas jogadas. Erdoğan avançou com uma lei que penaliza as instituições superiores privadas, a maioria das quais controladas por Gülenistas. Gülen, que tem seguidores infiltrados na banca e na polícia, "destapou" este escândalo.

Um resultado imediato do escândalo financeiro, com claros contornos de jogo político, foi o adensar do descrédito dos chamados "partidos tradicionais", perante a juventude. Num fenómeno semelhante ao que vemos em Portugal, Espanha, Itália e Grécia também na Turquia a juventude se sente cada vez menos representada pelos partidos do poder.

Mas, curiosamente, vejo uma vontade maior dos jovens na Turquia (é perigoso o uso das expressão "dos jovens turcos"!) de reformularem o sistema, participando no mesmo. Vejo um desejo, muito curioso, de reformar o sistema por dentro; pela via participativa. E não apenas, como na Europa do Sul, de participar numa parada infinita de protestos e manifestações dos quais 4/5 são desprovidos de conteúdo, de agenda, de verdadeira vontade política.

Voltemos à Turquia! O resultado deste jogo de poder está longe de ser certo, mas para já está a causar um terramoto político, com os Ministros,  Secretários de Estado e Deputados sobre suspeita, e social, com o tema a dominar as conversas, de rua e de café, pela Turquia. Os próximos dias prometem mais novidades... O Fidalgo estará atento!


Comments