Sr. Primeiro-Ministro a Verdade é poliédrica, mas nem tanto!

O Fidalgo preparava-se para escrever sobre o último dia de aulas do semestre. Sobre os desafios que vinham no caminho. Sobre o muito feito e o muito ainda por fazer. Sobre o 2014, mas as notícias vindas de Lisboa mudaram tudo. E de repente o que ia ser um post pessoal, passa a ser um post de (digamos!) esclarecimento e, quiçá, crítica. A ver vamos como corre a escrita...

Li, com espanto, que o Sr. Primeiro-Ministro se congratula de a economia portuguesa estar numa fase melhor. Vejo com espanto que, depois de fazer implodir quase tudo, qualquer pequeno sinal menos negativo parece dar azos a uma euforia disparatada lá para os lados de S. Bento. Como uma criança num cenário pós-ciclónico que após perder tudo se anima por encontrar, no meio dos escombros, um carrito a pilhas, sem telecomando e a faltar-lhe uma roda e tudo...

Diz ainda que estamos a crescer mais do que a Europa. Pausa, para uma ligeira gargalhada. Também nos podemos rir das tragédias... A ver se nos entendemos: se o meu vizinho passou de uma produção de 10 para 15 aumentou apenas 50%; enquanto que eu aumentei 300% só que a minha produção foi de 2 para 6. Será que isto é razão para festejo? Continuo a produzir menos em termos nominais... Continuo a estar atrás do vizinho, que fará 15 vendas enquanto eu me limitarei a 6. Festeja-se o quê mesmo?

Mas a "transformação" de um cenário negro, num cenário cinzento claro ou (com esforço!) prateado continua. Diz o Sr. Primeiro-Ministro que a Economia conseguiu criar 120.000 postos de trabalho; que o desemprego desacelerou porque se criaram os tais 120.000 postos de trabalho. É, contudo, curioso que 120.000 seja o número de portugueses que, sem opção, teve que migrar em 2013, tal como acontecera já em 2012.

Não acha uma falta de respeito, para com quem migrou e para com as famílias destes, tentar vangloriar-se de resultados que não são seus? A economia lusitana não criou 120.000 postos de trabalho Sr. Primeiro-Ministro. Foram 120.000 trabalhadores, muitos dos quais jovens qualificados, muitos dos quais sem perspectivas no presente e sem vontade de regressar no médio-prazo, que abandonaram a economia lusitana.

O único mérito que o Sr. Primeiro-Ministro tem nisto tudo, se é mérito que procura, foi o de "empurrar" uma geração para fora do seu país. E a sangria, ou fuga de cérebros, ou perda de talentos, chamem-lhe o que quiserem, está longe de ter terminado. Andou o país a investir, e bem, nos seus jovens; para esses jovens, agora, irem laborar fora de portas. Agradecem os países de acolhimento, que o sucesso português é como os cogumelos: multiplica-se!

Sempre defendi a ideia de que a Verdade, enquanto conceito, é poliédrica. A expressão não é minha, mas de um colega, mas ajusta-se que nem uma luva ao que penso sobre a Verdade. A Verdade não é dogmática, nem tem apenas uma versão, nem tem apenas um sentido. Mas entre as várias facetas da Verdade e a manipulação transfiguradora vai um fosso enorme que, meu caro Primeiro-Ministro, não deveria ultrapassar.

Depois de um relatório parlamentar (e para lamentar!) ter branqueado a participação de uma Ministra (pálida sombra de um ex-Ministro!), no tal caso das SWAP; assistimos ao triste espectáculo de um Primeiro-Ministro a vangloriar-se pelo que não fez e a querer ver ouro, onde apenas existe latão, e do de má qualidade. A Verdade, repito, é poliédrica, mas os portugueses não são tontinhos. E brincar com a Verdade, por norma, dá mau resultado. Fica o aviso...


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