Desculpas a mais, resultados a menos...

O Fidalgo ainda está meio que pasmado, surpreso, incrédulo com as últimas declarações de Christine Lagarde, Directora-Geral do FMI. Descobriu sua Excelência que os programas de ajustamento implementados em Portugal e na Grécia contiveram excesso de austeridade e falta de tempo. Ou seja, descobriu aquilo que venho escrevendo... Austeridade sim, mas de outra forma!

A mesma diz que "é uma questão de honra assumir os erros", o que até não parece mal ao Fidalgo, mas logo em seguida partiu em defesa no que toca à substância dos programas. Ou seja, errou-se mas se pudessemos voltar atrás errar-se-ia outra vez, mas desta feita com mais tempo. Menos mal, se é para errar que se cometam erros novos e não se ateimem nos mesmos.

O curioso "mea culpa" não é, de resto, o primeiro. O Fidalgo ainda se lembra que em Abril de 2012, o FMI avisava que demasiada austeridade podia ameaçar a retoma das economias intervencionadas: Portugal, Grécia e Irlanda. Na altura, e agora, o FMI aponta o dedo à Comissão Europeia por insistir no mesmo caminho de austeridade-a-todo-o-gás. Ou seja assumem-se as culpas pela destruição (desnecessário, lá está!) causada mas, qual criancinha embaraçada, aponta-se logo o dedo: "mas ele errou mais do que eu, mãezinha!"

O discurso revela uma completa hipocrisia institucional, da parte de quem tem demonstrado um total autismo no que toca a ouvir falar em alternativas. Porque existem alternativas! Um discurso meio-pateta, pela parte de quem representa uma instituição enredada numa interpretação errada da lógica dos consensos, definida por Habermas.

O discurso de Lagarde coloca ainda o Fidalgo numa posição nova, a de reconhecer o papel ingrato do Primeiro-Ministro. Podemos discordar de Pedro Passos Coelho em imensas coisas, faço-o quase todos os dias, mas a verdade é que tem defendido o programa, que sabia ser duro e impopular, com um vigor notável. Programas impopulares precisam ser defendidos com pujança, sob o risco de se esborarem na primeira dificuldade!

Ficava-lhe bem, ao mesmo tempo, por vezes, saber ceder aqui e ali; ficava-lhe bem mostrar menos seguidismo, ao que Berlim vai impondo (ou ainda achamos que o BCE e a CE, os outros troikeiros, são independentes?); ficava-lhe bem escolher outros caminhos, mas também aqui dou a mão à palmatória... Para ceder e adoptar novas ideias é preciso uma Oposição à altura, menos demagógica e muito menos eleitoralista, coisa que em Portugal escasseia por estes dias...

Ou seja, anda o Primeiro-Ministro a tentar explicar e defender medidas que lhe são apresentadas, que é deselegante dizer impostas, pelos troikeiros e depois os troikeiros dizem que o programa, que fundamenta as tais medidas, tem erros no desenho? Já todos perceberam que a austeridade-turbo-excel não funciona e todos querem salvar a face, num espectáculo deplorável de meas culpas e de dedos em riste.

Sempre defendi uma austeridade diferente, menos agressiva, a pensar menos em cortes, cortes, cortes, cortes e a fazer reformas com um fôlego diferente; com um envolvimento diferente. O ajustamento deveria ser para prugar os erros e apresentar soluções e não para abrir caminho a um neoliberalismo selvagem, que na sua voracidade destrói mais do que constrói.

E quanto ao FMI, e à sua Suserana, minha senhora só lhe posso dizer que as suas desculpas não devolvem os empregos destruídos, pela pressa e pelo erro de cálculo; as suas desculpas, não devolvem os filhos e as filhas que partiram para outras terras; as suas desculpas não devolvem esperança aos jovens; as suas desculpas não mudam nada, se no fundo assume que nada mudará. As suas desculpas não a desculpam! Ponto.


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