Assim se passam três meses...

16 de Dezembro! Três meses! Estou há três meses fora de Portugal. Nunca antes estivera tanto tempo fora e com tanto tempo ainda pela frente. Três meses, um terço apenas do tempo que leva a formar uma nova vida, e parece-me contudo que tenho toda uma nova existência. Como se tivesse renascido, sem precisar de morrer...

Há dias pus-me a pensar como tudo mudou. Lembro-me quando em 2005 e 2006 rumei ao Brasil. Na primeira aventura Manaus, na segunda Belo Horizonte. Um mês longe de tudo! Não senti sequer um décimo do que agora corre nas minhas veias. Porque não sou apenas feito de sangue e de lágrimas. Porque algo mais percorre este corpo, talvez seja saudade. Talvez...

Nas aventuras em terras de Vera Cruz eu sabia que, durasse o tempo que durasse, era tudo temporário e voltaria a Portugal. Eu sabia que aquilo era passageiro; momentâneo; fugaz. Agora é diferente! Agora, Portugal tornou-se o momentâneo; o passageiro; o fugaz. Quando chegar a Portugal (ainda faltam 32 dias) sei (lembrar-me-ei a cada segundo) que voltarei para a Turquia. Sei que é aqui que está o definitivo, se é que isso existe.

Definitivo! Nada é definitivo. Eu já quis ser definitivamente tanta coisa, todas tão longe daquilo que sou hoje. Sei, contudo, que estes três meses se multiplicarão; que com eles se multiplicarão as memórias; que com eles se multiplicarão as estórias. E as perdas. Que viverei muita coisa, é certo. Mas que não viverei tantas outras. Que conhecerei um novo mundo, porque deixei para trás o meu reino. E já se passaram três meses.

Há três meses atrás protestava em viva voz se estivessem menos de 10ºC. Agora fico feliz com 0ºC, já que passo dois-três dias sempre com temperaturas negativas. Há três meses atrás aproveitava cada momento para praticar as outras línguas, que não a nativa... Agora vibro só de ouvir palavras que se parecem com o português. Há três meses atrás um bom café era um facilidade. Agora um café, já não peço que seja bom, é um luxo!

Há três meses atrás tinha uma caixinha com amostras de perfumes. 18! Tenho a caixinha desde 2005. Viajou comigo para imenso lado. E, há dois dias atrás, a caixinha ficou vazia. Até a caixinha dos perfumes quer recomeçar; quer uma nova função, agora que não tem perfumes para guardar. São três meses no calendário, mas muito mais na minha vida. Porquê? Não sei, nem sei se quero saber, a resposta... São três meses que valem por três Eras e ponto!

Viverei mais de quatro meses em Kirikkale (os tais 32 dias que restam!) antes de embarcar em Ankara, rumo a Lisboa e depois até Abrantes. Quatro meses e dois dias e pausa! 21 dias de Portugal. De tudo o que é ilusório, mas que sendo ilusório sabe tão bem. Verei os rostos dos meus amigos, da minha família, dos meus conhecidos. E no entanto nada é meu, porque são rostos que não me pertencem. Mas não sendo meus, sabe bem pensar que são.

E assim se passam três meses...


Comments