Tentando estar, mesmo não estando...

Habituei-me a estar presente no teu aniversário. Contam-se pelos dedos de uma mão os poucos que falhei. Não estive no primeiro aniversário, porque não existia. E por isso creio que a Natureza e a Providência são mais responsáveis pela minha ausência do que eu. Ia falhando em 2009, mas cancelei o evento que tive no Porto. Não estive no do ano passado, porque estava a dar uma palestra em Lisboa, mas logo que pude rumei a Abrantes para te dar um beijinho.

Tornou-se por isso um hábito poder dar-te um beijinho de parabéns, para além das felicitações virtuais no Hi5, no Facebook e via SMS. Tornou-se um hábito poder olhar nos teus olhos cor de avelã e ver a matriz bonita de que se fazem as grandes mulheres. O mais intrigante de tudo é poder ver, o que tu não vês. É poder olhar com palavras, o que os outros vislumbram sem saberem usar os olhos.

E para quem vive de palavras, num Universo de sons mudos, és uma musa perfeita. Uma inspiração não por seres perfeita, mas pela imperfeição; pelo facto de abraçares a tua condição humana e de seguires em frente. Sabes que tens limitações, mas não deixas que elas te limitem. E essa imperfeição em constante estado de transformação torna-te mais do que perfeita: torna-te TU MESMA.

São quase 30 anos. E nos fios de cabelo, que mudaram tanto de cor, estão estórias de quem cresceu já crescida. De quem soube ser irmã e mãe ao mesmo tempo. De quem temperava carinho e traquinice, com autoridade e organização. De quem sabia dizer sim, ou impor um (necessário!) não. De quem tinha que ser criança, enquanto fazia papel de crescida.

E nas mãos de tez pálida correm memórias de coisas sentidas, que as palavras poderiam descrever, mas que pouco acrescentam se escritas. As mãos palmilharam sensações vibrantes; não se cansaram de aplaudir, de acarinhar, de afagar, de proteger, de querer amar. As mãos que não param enquanto não ajudam o Outro, mas que muitas vezes se esquecem que também precisam de ajuda. As mãos que de tanto aplaudir, já merecem ser aplaudidas. E de pé! E com ovação!

E no sorriso escondem-se segredos, que não se segredam às paredes. No sorriso estão imagens do que se foi; de como se foi; porque se foi. No sorriso está a chave da grandeza, de quem não querendo ser grande é gigante. No sorriso está a chave da enormidade, de quem só quer ser. No sorriso está a passadeira da fama, de quem sempre gostou mais dos bastidores. No sorriso estás tu; está aquilo que tu és e que muitas vezes nem percebes ser.

E são esses quase 30 anos que se celebram hoje. Por vicissitudes dos Tempos; por erros que não cometi; por gastos que não fiz; não estou contigo. Falho mais um aniversário. E este levarei algum tempo a compensar. Falho mais um aniversário, mas não falha o que sinto: o orgulho e a admiração com que olho para a primogénita. O tremor de emoção, tão profundo, que me arranca lágrimas e sorrisos. Que guia as mãos pelas palavras, quando o cérebro se tolda de saudade e o coração exulta eufórico.

Quem nos governa não vai ler isto e mesmo que leia duvido que entenda o que aqui está plasmado; o que sinto com cada grafema impresso; o que custa não estar perto de quem nunca esteve longe; o que dói saber que causarei dor, pela ausência imposta. Mas Eles não importam! Importas tu, hoje e mais do que hoje. Importas tu ontem, hoje e amanhã. Importas! PARABÉNS maninha!


Comments

Rita said…
não posso deixar de comentar... está encantador o teu presente para a tua mana... acredita;) és um Amor Tiago!:) é de cair a lágrima, mesmo! Beijinhos, "Longe dos olhos, perto do Coração":)