Quando chegamos ao final do túnel?

Pedro Passos Coelho anunciou hoje que o Orçamento de Estado  para 2014 pode gerar "um choque de expectativas", isto tendo em conta algum optimismo no discurso político, do seu partido, dos seus ministros e da sua lavra, nos últimos meses. Optimismo é exagerar, porque a narrativa política vai flutuando entre "estamos quase no fundo do túnel" (felicidade-frouxa?) e o "afinal era só uma curva, o túnel continua" (infelicidade-apocalíptica?).

Quem tem memória recorda-se que o começo do final das trevas troikianas seria após Setembro, com o famoso regresso aos Mercados. Veio Outubro e o discurso fala ainda em "choque de expectativas", alinhando de resto com Durão Barroso que avisa que se segue o túnel ou "está o caldo entornado". Isto dito por alguém que assim que pode abandonou a malga lusitana, pela baixela aporcelanada de Bruxelas. É preciso ter pouca (se alguma!) decência...

Ou avisos, de resto, vão sendo uma constante. Quando se encontram perante o imobilismo e ao seguidismo acrítico vai-se dizendo "mas estamos tão perto"; e quando a contestação sobe de tom, quando o bater do pé se ouve mais do que o bater das palmas a narrativa logo muda para um "mas o Apocalipse ainda pode acontecer". Esta gestão de expectativas já não causa choque, nem sequer surpresa. Já não causa nada!

Passos Coelho vai saltitando (para fazer jus ao nome, talvez?) entre a esperança de um amanhã de glória, para dar um novo alento de energia ao populus para se fazer o que falta fazer; e o amanhã sombrio que assustará o populus e o condicionará a fazer o que falta fazer. O importante é cumprir a cartilha, a mesma cartilha que tem sido alvo de críticas até por quem a desenhou.

A mesma cartilha que parece condenada ao fracasso sempre que testada; e condenada a ser sempre usada quando falta imaginação, ou quando a ideologia fala mais alto do que a lógica dos factos... Não são as expectativas que ficarão em choque com o novo Orçamento de Estado, é antes a moralidade que volta a ficar em coma. Porque afinal o que importa são os números, os credores, as dívidas todas pagas, os lucros e depois, bem no fundo do tal túnel, as pessoas.

Na Grécia, com dois+um pacotes de ajuda e algumas renegociações de metas feitas nos últimos seis anos, também se fala em "final do túnel" no final de 2014. Isto num país com o emprego quase a chegar aos 30%; num país com um tecido económico arrasado; com uma população sem esperança e com uma classe política perigosamente descredibilizada.

Vai sendo tempo de a classe política nacional (porque a Oposição também tem muitas culpas!) deixar a demagogia bacoca e o partidarismo cego, para passar à acção e ao resolver dos problemas. Vai sendo tempo de a classe política nacional pensar não apenas em resgatar a soberania económica, mas a soberania de sermos quem somos: Portugal! Só assim chegaremos, um dia, de facto, por fim, ao fim do túnel!


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