Breve reflexão sobre as Autárquicas 2013

Com os resultados das autárquicas praticamente fechados, estão ainda por realizar duas votações e por apurar os resultados de duas outras mesas de voto, é tempo de balanço. Surpreendeu-me de resto a avidez com que comentadores teceram laboriosos raciocínios sem ter os resultados finais. Surpreendeu-me a velocidade com que se quis formular opiniões, que por vezes redundam em clichés com intenções "politiqueiras".

Com um mandato ainda por atribuir o PS conseguiu já igualar o número de mandatos que ganhou em 2009 em Câmaras Municipais: 921. O PSD (sozinho) perdeu 135 mandatos passando de 666 para 531. A CDU aumentou 39 mandatos passando dos 174 para os 213. O CDS-PP (sozinho) sobe também de 31 para 47 mandatos, ou seja mais 16 mandatos. O Bloco de Esquerda passa de 9 para 8 mandatos.

Os Independentes passam de 67 mandatos para 113 mandatos, naquela que foi a maior subida da noite em conquista de mandatos nas Câmaras Municipais. O MPT (sozinho) manteve o mesmo número de mandatos conquistados no último escrutínio: 2. E o PND (sozinho) perdeu o único mandato que tinha conquistado.

Há ainda a ter em conta mandatos conquistados na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia, mas o Fidalgo não olhará para isso. O Fidalgo também deixará de fora do seu comentário a confusão das coligações, curiosamente mais comuns entre os partidos de Direita do que entre a Esquerda. E há ainda a tragédia de uma abstenção perto dos 47,5%.

O que podemos retirar de tudo isto? A vitória do PS não foi tão avassaladora como algumas mentes da praça, levadas pela excitação da noite eleitoral, quiseram fazer crer. A vitória do PS é interessante, é um novo dado político que o Governo não pode ignorar, mas não é mais do que isso: interessante. Em percentagem de votos o PS até perde 1,42% de votos, passando de 37,67% (2009) para 36,25% (2013).

O PSD (sozinho), por seu lado, é um dos grandes derrotados da noite. Perde 135 mandatos e 6,26% nas intenções de voto não chegando sequer aos 17%. Um resultado fraco para um Governo que tem um Orçamento de Estado para aprovar e que tem de mostrar trabalho urgentemente, pois a capacidade dos portugueses acreditarem no valor dos sacrifícios impostos esgota-se.

Falar em vencedores nas Autárquicas 2013 é falar na CDU! Conquistam 39 mandatos novos, aumentam o domínio no Alentejo, e aumentam o número de votos em 1,31%. Passam dos 9,75% de 2009 para uns curiosos 11,06%. A CDU, goste-se ou não do estilo, representa uma oposição com consistência. Mantém uma linha de argumentação coerente, não sendo apenas anti-governo é alternativa com propostas, ideias e argumentos conhecidos. A CDU não capturou votos de protesto, tem em crer o Fidalgo, capturou votos de cansaço com o bipartidarismo laranja-rosa e votos de quem tem vontade de descobrir trilhos novos.

O CDS-PP é outro vencedor da noite passando a contar com mais 16 mandatos e perdendo apenas 0,5% de votos entre os dois escrutínios. A irrevogabilidade de Portas não fez moça, ao que parece, na mente de muitos eleitores. A crise/birra política não se traduziu em perda de votos e mandatos. O CDS-PP representa, curiosamente, uma inversão do cenário alemão: na Alemanha o partido de Merkel ganhou votos à custa do parceiro mais pequeno; por Portugal o parceiro de coligação foi buscar votos ao "irmão grande".

O PSD não esteve sozinho na sua derrota! O BE, por muito que tente disfarçar, perdeu em toda a linha. Não conseguiu, sequer, renovar os 9 mandatos conquistados em 2009, perdeu um pelo caminho; não conseguiu passar a barreira dos 3% de votos (nem sequer 2,50% obteve); não conseguiu manter a única Câmara Municipal que tinha. O BE anda à deriva, sem ideias e sem argúcia, e corre o risco de desaparecer, de se diluir entre a oposição vincada da CDU e a oposição dócil do PS.

Voltemos aos vencedores! A coroa das Autárquicas 2013 vai para os candidatos Independentes. Conseguem mais 46 mandatos, conseguem mais 2,83% votos ficando pertinho da barreira dos 7%, conseguem conquistar a segunda Câmara mais poderosa do país. Os Independentes são os grandes vencedores da noite eleitoral, mostrando uma clara resposta da sociedade civil à exaustão de ideias e ao diluir de ideais na sociedade política.

Os Independentes representam um grito de revolta democrático, com mais consistência do que os mediáticos Anonymous. São uma nova faceta da vida política nacional, que apesar de contar com quase 48% de eleitores-abstencionistas, conta também com cada vez mais gente empenhada em fazer política, num momento em que a cola agregadora dos partidos políticos mostra sinais de fraqueza. A vitória da noite é dos Independentes e ignorar isso é não perceber muito de política.

Menção muito honrosa ao Movimento Revolução Branca que marcou os meses que antecederam o escrutínio popular. A vontade férrea em acabar com os "dinossauros" políticos acabou por se traduzir na aniquilação de muitas desta figuras. O autarca-nómada não é um espécimen extinto, pois que sobreviveram alguns, mas a sua população é menos numerosa do que se previa.

E é isto! As Autárquicas 2013 deixam os partidos com sensações e posições diferentes. Temos assim um PS com uma vitoriazita engalanada pelo estrondo de Lisboaum PSD com uma derrota indigesta, mal disfarçada pelas conquistas nas várias coligações; um CDS-PP com uma vitória por clara transferência de votos; uma CDU com uma vitória relevante, com um novo domínio sobre o bastião Alentejano; um BE em estado de diluição; e os Independentes coroados pela persistência, pela criatividade e pela ousadia.



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