Azerbaijanices, é o que é...

Os países do espaço pós-soviético insistem na parada eleitoralista, como mecanismo de "certificação" do seu grau de democraticidade. E se é inegável que as três repúblicas bálticas e algumas repúblicas balcânicas têm feito um esforço assinalável no sentido de construírem regimes de base democrática; é não menos verdade que na Europa de Leste, Cáucaso e Ásia Central a parada eleitoralista é mais um ritual, do que um verdadeiro mecanismo democratizante.

E com isto chegamos às eleições no Azerbaijão. O resultado não foi propriamente uma surpresa, com Ilham Aliyev a conquistar o seu terceiro mandato presidencial. Aliyev não validou apenas o seu terceiro mandato com o (suposto!) voto popular. O Presidente Aliyev mostrou que é o líder natural do petro-estado transcaucasiano, já que o resultado final da eleição Presidencial, que decorreu a uma quarta-feira (curioso, não?), lhe deu quase 86% dos votos!

Um resultado impressionante por si só, mas ainda mais impressionante se o Fidalgo lhe disser que o Presidente reeleito não fez campanha eleitoral. Nada de muito surpreendente, pois afinal para quê correr se já estamos na meta? A oposição lá ensaiou um protestos, umas marchas e uns comícios, mas tudo muito sem chama porque nem a oposição, deslumbrada com os petro-dólares e com a opulência que irradia de Baku, se quis opor muito a Aliyev.

A eleição presidencial no Azerbaijão, de resto, foi como se Usain Bolt corresse os 100 metros contra criancinhas de sete meses pouco ou nada capazes de se porem em pé. Foi tão veloz a vitória de Aliyev que os resultados eram já conhecidos, ainda as mesas de voto estavam abertas. Para quê esperar pela contagem (em Portugal levamos quase quarenta e oito horas de escrutínio eleitoral!?) se o vencedor já sabia que vencera?

Aliyev é o epíteto do verdadeiro autocrata pós-soviético, minado pelo neo-patrimonialismo eslavo-mongol que o impede de destingir a res publica da res privata. Aliyev venceu as eleições no Azerbaijão, porque o Azerbaijão é de Aliyev e quem pensar o contrário engana-se (e muito!). O Azerbaijão é tão de Aliyev que até já existe sucessor para o Presidente, caso este decida não concorrer a um quarto mandato: Mehriban Aliyeva, a sua esposa.

O resultado eleitoral no Azerbaijão foi denunciado por várias organizações internacionais e por vários estados do dito mundo Ocidental, mas como o dinheiro fala mais alto a denúncia foi soft. Os Estados Unidos da América condenaram a irregularidade e a falta de transparência eleitoral, mas não avançaram com quaisquer consequências diplomáticas. Algo curioso se considerarmos a velocidade com que se impõem sanções a Minsk, que apenas joga o mesmo jogo que Baku.

A OSCE, apesar de criticar o resultado eleitoral pouco claro, aplaude o facto de eleição ter sido disputada por vários candidatos. Factores como equidade, justiça, transparência e honestidade foram menorizados. Aliyev ganhou contra "outros", sabendo de antemão que os outros não eram verdadeiramente elegíveis, mas o importante para a OSCE era que os "outros" estivessem lá...

A União Europeia preferiu nem sequer enviar uma missão de observação eleitoral, não fosse o relatório final "chatear" Baku e o negócio dos oleodutos e gasodutos esfumar-se de vez... Para derrotas já bastou o colapso do ambicioso projecto Nabucco. Ao Fidalgo a parada eleitoral, porque não se deve chamar "eleição" a um acto de confirmação, não trouxe surpresas, apenas confirmações e alguns desapontamentos. Azerbaijanices, é o que é...


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