A Europa, as Uniões da Europa e as galinhas da vizinha...

A realidade política comparada tem sempre destas coisas, por vezes olhamos para "a galinha da vizinha" e percebemos que ela é mesmo melhor do que a nossa. Na Europa, que respirou de alívio com a elevação à glória da sua Imperatriz Auto-Nomeada e (parcialmente) eleita, o tempo é de contas. O novo orçamento tem que sair e os 28 membros + Comissão + Parlamento não se entendem.

Uns querem mais dinheiro, porque o tempo é de crise e por isso é preciso proteger os mais desfavorecidos; os mais castigados com os erros que não cometeram; os mais penalizados por se trilhar um caminho que não tem como ser caminhado. E outros, como o Reino Unido (mais recentemente), acham que dinheiro a mais é manter vícios, manter maus hábitos, manter a imoralidade.

O problema é que certas vizinhas, quando olham para a galinha do lado, olham toldadas pelo preconceito; pela ideia que a vizinha do Sul é preguiçosa e mandriona; e não faz mais e melhor apenas porque não quer. Na verdade não olha para a vizinha, põe-lhe apenas a vista em cima e deixa que o preconceito tome espaço e olhe por si, numa cegueira que não pode dar bons frutos num espaço em que as 28 vizinhas deveriam ser amigas...

E depois, num "bairro" não tão distante, há planos para se usar dinheiro como mecanismo de atractividade para a criação de um espaço onde se querem mais vizinhas. Um espaço onde as vizinhas, as que estão e as que irão chegar, se querem afiladas pela lealdade e pela ausência de cobiça pois que haverá galinhas para todas! Eu descodifico...

O Primeiro-Ministro do Quirguistão propôs a criação de um Fundo de Assistência a quem se juntar à União Eurasiática, espécie de CEE 2.0 liderada por Moscovo, que começará como um projecto de mercado livre, de transacção de bens e capitais e (a seu tempo) lá caminhará para uma integração política maior...

Nos dois bairros, no da União da Europa e no da União da Euroásia, tenta-se reconstruir a grandeza de Impérios que já foram, mas cujo pó ainda (se) inspira. Lá como cá o Síndrome de Roma (a eterna tentativa de reviver a Pax Romana) ainda vai mexendo com muitos mandantes...

Só lamento que no bairro da União da Europa, supostamente humanitária, solidária e democrática, impere o autoritarismo do mercado e austeridade multidimensional que rarifica ideias e estrangula soluções não-austeras. Lamento que a União da Europa se fragmente porque nunca se quis unir; foi a cobiça pela galinha alheia que juntou tanta vizinha.

E acho curioso que na União da Euroásia, no tal bairro de ditadores despreocupados com direitos basilares, existam preocupações com os custos de se entrar para um espaço comum; com os custos de se homogeneizar o que até então era diferente. Se tudo correr bem não será preciso cobiçar a galinha da vizinha, porque as galinhas serão todas iguais.

E por aqui se fica o Fidalgo...


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