A eleição feita coroação?

E Angela Merkel venceu. O resultado, na verdade, não tem nada de surpreendente, apesar dos comentários entusiásticos de algumas luminárias do espaço público. Desde o final de Julho que Merkel liderava todas as sondagens, com uma distância tão confortável como os sofás da Divani&Divani. A eleição quase trouxe a surpresa de um partido eurocéptico tomar lugares no Parlamento Alemão, mas o quase não faz História...

Merkel venceu a eleição e a Europa da Tecnocracia-Austeritária respirou de alívio. A Europa, transformada em quintal germânico, temia o novo, sabendo que o novo não aconteceria, numa prova de que o nervosismo mediático contamina facilmente líderes pouco ou nada preparados para as agruras da vida pública. A Europa da Tecnocracia-Austeritária respirou de alívio, mas nunca teve verdadeiramente em perigo.

A eleição de Merkel teve qualquer coisa de coroação. De confirmação do novo momento de poderio Alemão. De confirmação de que o caminho trilhado, apesar de calamitoso, é para continuar a trilhar, enquanto de Berlim não vierem sinais contrários. A eleição de Merkel foi mais uma confirmação do que um processo de selecção, porque não havia muito a seleccionar quando nem a Oposição se esforçou. A Oposição na Alemanha é de resto, como em Portugal, bastante frouxa.

A eleição, ou antes a coroação de Merkel, não fica contudo isenta de derrotas, que os media internacionais tentaram ocultar ou, o mais certo, nem se deram ao trabalho de apurar. O parceiro de coligação de Merkel perde a eleição. E ninguém acha curioso que Merkel ganhe com glória e os seus parceiros percam com estrondo? É o mesmo que jogar ténis a pares e no final um dos jogadores levar a taça e o outro ser desclassificado. Para o Fidalgo é estranho...

Merkel venceu, coroou-se de glória mas não conseguiu evitar um cenário instável para confirmar uma coligação. Merkel terá que ceder na questão dos minijobs e na introdução de um salário mínimo para atrair os Sociais-Democratas? Será desta que a Alemanha passa a pugnar por regras similares ao restante espaço europeu que tão avidamente deseja controlar? Ou a "vantagem competitiva" e o "sussurro dos mercados" ainda irão dar a volta ao jogo?

Estranho a ausência de menção aos valores da abstenção, que muito nos podem dizer sobre o real impacto doméstico da eleição que coroou Merkel para mais um mandato que, quando terminar, a fará estar na liderança da Alemanha mais tempo do que Assad tinha de liderança da Síria no começo da Revolução Árabe. Mas como é óbvio só Assad é que se quer perpetuar no poder político.

Não foi uma eleição o que a Alemanha viveu no Domingo. Foi uma coroação; a coroação de uma ideia gasta, vazia, derrotada e mesmo assim capaz de galvanizar um povo que não percebeu que "destruir" os vizinhos levará a uma inevitável auto-destruição. E o Fidalgo fica-se por aqui...


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