Não precisa imaginar, isto é real...

Vamos a um jogo de faz-de-conta. Imagine que vive num país, com forma rectangular imperfeita, ladeado por água em duas das quatro fronteiras. Para facilitar as coisas chamemos ao país imaginário Porta-e-Galo. Juntamos um objecto animado e um inanimado, unidos por hifenização e por uma conjunção coordenativa para chegar a tão belo nome: Porta-e-Galo.

Nesse país imaginário, obviamente, percebe-se, não importa como, que a Ciência é importante para o crescimento económico, para o desenvolvimento humano e para a maturidade do colectivo social. Percebe-se que a Ciência é o caminho para a independência, para além das armas, pois quem não Entende e não Se Entende não é verdadeiramente independente.

Imaginemos agora que nesse país imaginário, no nosso Porta-e-Galo, se cria um sistema de "controlo" e promoção da Ciência financiada por erário público. Essa mesma instituição lança concursos periódicos em que pede aos Cientistas e aos aspirantes a Cientista para competirem por recursos, naturalmente, escassos. As ideias são enviadas para concurso e, imaginamos, será o mérito a decidir quem consegue os seus intentos e quem não consegue...

É aqui que a imaginação, que o nosso belo Porta-e-Galo, perde o seu encanto inicial. A instituição que gere o erário público do nosso país imaginado; a instituição que constrói mecanismos de independência intelectual-estrutural não se pauta pelo esperado mérito... Não... Redes de interesse, tão podres como as teias tecidas por Shelob, dominam o concurso. O mérito é empurrado para o canto, sovado com uma violência carniceira que não augura nada de bom.

O nosso Porta-e-Galo, país imaginado, orgulhoso do seu esplendor histórico e preso a memórias do tempo que já foi, vê assim despendidos recursos limitados de modo vil e ignorante. Vê assim lesadas as hipóteses de se sedimentar a independência, que vai para além das armas, num país onde as armas já não são o que eram. A Ciência do nosso Porta-e-Galo deixa assim de ser uma Flor num jardim à beira-mar plantado, para ser uma erva daninha à espera de ser queimada...

O problema é que Porta-e-Galo não é imaginado... O problema é que existe mesmo um país onde gente burrinha que nem uma porta, gosta de cantar de galo. O problema é esse país ser Portugal. Pois é, afinal não precisa imaginar, isto é tudo real... Tal como é real que está nas nossas mãos o poder de mudar muita coisa e de transformar Portugal!


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