Sobre nomeações, remodelações e despotismo electivo

Franquelim Alves, novo Secretário de Estado para o Empreendedorismo, estreou-se hoje na inquirições das Comissões Parlamentares. A estreia do novo Secretário de Estado fica marcada, não apenas pelo seu Curriculum Vitae, mas, para o Fidalgo, por um exercício parolo de utilização de anglicanismos, para demonstrar um domínio teórico-técnico sobre as matérias em que incide a sua secretaria.

Franquelim Alves, Secretário de Estado para o Empreendedorismo, fazia melhor serviço ao país se rompesse com a mania, cada vez mais enraizada, de "inglesar" tudo. Lembro que o anúncio do Papa Bento XVI de afastamento/renuncia/cessação das suas funções levou os media nacionais a recuperarem o verbo Resignar, por tradução directa do anglófono "to resign". Faria mais sentido Renunciar, mas para isso teríamos que viver num tempo que nos deixasse pensar e não apenas agir...

Voltemos à nomeação de Franquelim Alves. A nomeação deste como Secretário de Estado insere-se numa linha de governação com origem em José Sócrates, de um despotismo electivo. Pois acham estes Primeiros-Ministros que as eleições, que ainda decorrem em ambiente democrático, os legitimam a governar despoticamente apenas por se possuir uma maioria Parlamentar.

Acham que Schumpeter e a sua democracia procedimental são suficientes para tudo legitimar, mas a realidade parece achar diferente... Acham que uma teoria de democracia desenvolvida por um economista, com uma visão economicista da realidade, é suficiente para abarcar a multidimensionalidade da realidade hodierna. Mas os méritos de Schumpeter são limitados, para o Fidalgo, inserindo-se numa escola de pensamento simplista e redutora que abre as malhas da rede conceptual e torna possíveis abusos e deturpações!

A nomeação de Franquelim Alves demonstra também uma extraordinária falta de sentido de oportunidade, nomeando alguém com ligações ao BPN numa altura em que o BPN pesa nos orçamentos de todos os portugueses. Demonstra como os compadrios e redes de poder e influência estreitam a margem dos elegíveis, deixando-se de fora tanta gente de grande mérito a quem apenas faltou a agenda certa.

A nomeação de Franquelim Alves levanta ainda uma questão: onde está a prometida remodelação governamental? São estes quatro Secretários de Estados a remodelação de que falava Passos Coelho antes da aprovação do Orçamento? A tal que aconteceria logo que o OE2013 fosse aprovado? É que se é pois então não devia sê-lo... E se não é parece-me óbvio que o tempo de remodelar profundamente o Governo se esgota, se é que não se esgotou já!

A incapacidade de remodelar o governo apenas intensifica e valida esta ideia de despotismo electivo. De gente que acha que pode governar como se fosse Luís XIV, sem o esplendor ardiloso de Versalhes. De gente que não assume erros, que não assume derrotas, que não assume más escolhas. De gente que se tem em demasiada estima, para entender que por vezes para avançar três passos, ou mesmo dois, é preciso dar um passo atrás.

É que enquanto este despotismo electivo não for substituído por uma Democracia substantiva e efectiva não poderemos transformar-nos, como precisamos; não podemos evoluir. E o Fidalgo fica-se por aqui...


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