Por quem cantais, ó vozes da mudança?

O debate parlamentar de hoje, com a presença do Primeiro Ministro, marcou-me como não fazia faz tempo. A sessão ia normal, com trocas de insultos. Com a Oposição, que já foi Governo, a mostrar ao Governo os números do seu fracasso e com o Governo, que já foi Oposição, a lembrar a Oposição do seu passado governativo. Nada de novo, muda-se apenas o tom mas a mensagem tende em não mudar...

Como já disse em outros posts, os deputados parecem não ter compreendido ainda que a guerrinha de corredor e as tricas de cadeirão já não interessam ao cidadão. Ao cidadão a quem apenas se sabe dizer "Não, não, não" e pedir mais um favorzinho mais um sacrifício, que a dor está quase no fim... Num quase labiríntico que se renova, renova, renova e não se extingue.

E enquanto os deputados verborreavam entre si pensava eu "Onde estão as pessoas que importam?" E enquanto os pensamentos se fundiam com a cafeína e me despertavam, dei por mim a ouvir vozes que cantavam, melhor, que clamavam por Revolução. E isso, mais do que a cafeína, animou-me o espírito. As tais pessoas que importam estavam ali, sempre estiveram ali!

A minha mente animou-se! As pessoas estão vivas, estão a tomar consciência de que o poder está do lado delas. As pessoas estão a ficar zangadas, porque a delegação de poder que fizeram resultou numa usurpação e não numa delegação. As pessoas querem, e precisam, ser representadas. Mas ser representado é diferente de ser servil e de perder a Voz! Não é isso que o Voto significa.

Democracia não é o mesmo que Eleitoralismo! Democracia não é o mesmo que Autoritarismo validado por Voto! Democracia é o governo do povo, para o povo. É o sistema de governo em que se escolhem Representantes que têm de Representar. Representar senhores deputados, talvez fosse melhor verem num Dicionário o que isso significa.

E enquanto as vozes populares calaram quem por eles devia falar, eu pensei que essas vozes não calaram apenas o Primeiro-Ministro. Calaram todo um sistema ossificado, a cheirar a mofo, a cair de podre. Calaram toda uma classe que está enredada nos seus próprios assuntos e que não consegue olhar para quem devia representar. Calaram todo um grupo de gente que não sabendo o que dizer, diz as mesmas coisas usando vocábulos diferentes.

As vozes calaram o, já de si calado, Presidente que não preside. Calaram a corte de comentadores que insiste em não analisar com uma mentalidade nova, esquecendo-se que os problemas não se resolvem a pensarmos do mesmo modo como os criamos. As vozes calaram os que parasitariamente nunca governaram mas sempre viveram dos despojos da governação.

As vozes que soaram, que a Presidente da Assembleia da República mandou calar como mandam os regulamentos, calaram um sistema de Pensar. O mesmo sistema de ideias que tem sempre as palavras "Investidores" e "Economia" e "Ajustamento" com maior destaque. O mesmo sistema mental que tende a esquecer as pessoas por detrás dos números, que tende a menorizar o sofrimento real apenas para que se cumpra uma estranha agenda a que chamaram Processo de Ajustamento.

E com as vozes a tomarem posição, com as ideias a falharem a quem as devia ter, o Fidalgo começa a pensar se não será tempo de passar das Palavras aos Actos. Se não será tempo de reforçar o que se Escreve com o que se pode Fazer... Se não será tempo de dar às vozes que pedem por mudança, um caminho para esse mudança!?

E por aqui me fico...


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