Guia Prático sobre "Como Não Avaliar uma Candidatura Científica"

O Fidalgo gosta de cumprir com o prometido e, depois de ontem ter discorrido sobre as generalidades dos concursos de atribuição de Bolsas Individuais de Doutoramento e Pós-Doutoramento da FCT, hoje é chegado o momento de se olhar para um caso concreto! O caso do Fidalgo, claro está.

O Fidalgo concorreu duas vezes a Bolsas Individuais da FCT uma 2009 e uma em 2012 com uma taxa de sucesso de 50%. Em 2009 veio o Sim e em 2012 veio o Não. E esse facto sozinho poderá levar o leitor a duvidar dos motivos de o Fidalgo criticar agora a FCT e não em 2009. A verdade é que o jogo em 2010 e 2011 tornou-se ainda mais vicioso do que o era em 2009; e o que o Fidalgo critica são os modos de avaliar por comparação!

Em 2009 tinha terminado a minha Licenciatura (com Bacharelato, que ainda sou pré-Bolonha) em Comunicação Social. Em 2009 não tinha artigos científicos; tinha apenas uma participação passiva num evento científico em Bruxelas; não tinha curriculum científico de qualquer espécie e falava português, francês e inglês. Em 2009 foi-me atribuído no parâmetro "Mérito do Candidato": 3,5. Nada a acrescentar!

Em 2012 estava a terminar o Doutoramento, no momento em que lacrei a candidatura já tinha entregue a versão final da tese de Doutoramento e aguardava marcação de provas públicas; tinha 3 artigos publicados e 2 capítulos em dois livros; participara activamente em quase três dezenas de eventos científicos nacionais e internacionais; tinha quase quatro anos de trabalho com várias instituições científicas e juntara às línguas de partida o espanhol, o russo e o árabe. Em 2012 no parâmetro "Mérito do Candidato" tive: 3,5! Curioso...

Em 2009 concorri à Bolsa em causa lacrando como "Instituição de Acolhimento" o Instituto do Oriente. A nota, como eu sabia, foi de 4,5! Em 2012 escolhi duas Instituições de Acolhimento o Instituto do Oriente (4,5) e o Centro de Administração e Políticas Públicas (5)... Diria a lógica que teria um 4,75? Mas tive somente 4,05... Curiosamente o meu Orientador também foi avaliado e a nota dele de 3,75 (quem conhece o caso sabe que esta avaliação do meu Orientador é tudo menos honesta!) baixou a nota global para 4,05.

Em 2009 o programa de trabalhos de alguém vindo de Comunicação Social conseguiu arrancar 4,5... Em 2012 o programa de trabalhos de alguém com o intento de prosseguir com os estudos da tese ficou-se somente pelos 4 valores... Apesar de se dizer: "Tema interessante e inovador na abordagem, cruzando o campo das RI com a Antropologia. Estado da Arte Adequado e Bibliografia actualizada e definição correcta dos objectivos de investigação". E mesmo assim só consegui um "4"?

O que o Fidalgo acha extraordinário é o modo displicente como as avaliações parecem ter decorrido. Se os recursos eram escassos e certas áreas menos interessantes de financiar, então uma FCT honesta deveria assumir as suas limitações e não fingir que está tudo normal acalentando sonhos que depois se electrocutam, como as moscas nos "candeeiros-armadilha" dos cafés.

E haverá mais, muito mais, a dizer sobre o tema... É esperar para ver...


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