O estranho caso da República Checa...

Aconteceu ontem, enquanto o Fidalgo lia Nabokov e comia Toblerone, a Reunião dos Ministros de Finanças dos 27 países da União Europeia. No final da reunião anunciou-se com pompa que as Ministeriais Inteligências chegaram a um Acordo que permitirá dar ao Banco Central Europeu poderes directos de supervisão sobre cerca de 200 bancos e poderes, invocáveis, sobre os restantes (quase) sete milhares de bancos de média e pequena dimensão.

O Acordo, que levou 14 horas a ser finalizado, representa uma vitória da Máquina Imperial Alemã e uma confirmação do esvaziamento do poder real de Paris frente a Berlim! O Acordo, curiosamente, não conduziu a um consenso generalizado dos 27, em breve 28, Estados da União. O Reino Unido e a Dinamarca fizeram-se valer dos seus mecanismos de opt-outs e a Suécia e a República Checa assinalaram o seu desinteresse no projecto em causa.

O resultado da reunião, que para quem vai lendo e estando atento, tem pouco de surpreendente, chamou contudo a atenção do Fidalgo para a postura da República Checa nos últimos anos. Em 2009 a República Checa recusou-se a assinar o Tratado de Lisboa até lhe terem sido feitas concessões, próximas do mecanismo de opt-out, que apaziguaram os seus governantes.

Em 2011 a República Checa ameaçou bloquear o CETA (Acordo de Comércio entre a União Europeia e o Canadá), caso uma série de prerrogativas diplomáticas, ligadas aos vistos, não fossem tidas em consideração. A Europa que agoniza em manter a União voltou a aceder aos pedidos de Praga. No início do ano o Acordo de reforço à Disciplina Fiscal contou, outra vez, com os Nãos da República Checa e do comparsa Reino Unido.

Confesso que me faz alguma estranheza o Eurocepticismo militante. Ter uma perspectiva divergente dos Eurocrentes e dos Servos da Merkel (nova forma de Servidão, após a extinção dos Servos da gleba) pode ser salutar; mas ter uma perspectiva continuamente divergente, divisionista e bloqueadora parece-me um contra-senso, tendo em conta que a adesão à Europa da União é um acto de liberdade.

É o mesmo que querer entrar para um Clube de Golfe, com regras de adesão algo apertadas, e após ser admitido no mesmo dizer que seria mais interessante se jogassem antes Xadrez. Não se descarta o valor do Xadrez, mas a inscrição e adesão foi feita com a consciência de que naquele Clube se joga Golfe. Ora a República Checa, e mesmo o Reino Unido, precisam decidir-se se querem mesmo estar no Clube de Golfe como membros de pleno direito, ou se são Golden Visitors.

Para completar o ramalhete do posicionamento, muito curioso, de Praga na cena internacional é necessário mencionar ainda que a República Checa foi o único país do espaço Europeu a votar contra a elevação da Palestina para o estatuto de Estado Observador Não-Membro. Paixão assolapada por Washington? Ou necessidade de se diferenciar dos congéneres vizinhos nos Balcãs? Seja o que for tudo isto é curioso, muito curioso...


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