O Conselho que (afinal) é uma Agência...

Foi anunciada com a devida pompa a criação do Conselho da Diáspora Portuguesa. O projecto partiu de uma ideia avançada por Cavaco Silva, confesso o meu espanto, mas uma leitura mais atenta dos objectivos do Conselho fazem cair por terra as ilusões oníricas iniciais.

O Conselho da Diáspora Portuguesa, tem em crer o Fidalgo, deveria funcionar como um elo de ligação entre Portugal e os Portugueses que escolheram outros países como local de trabalho e/ou residência permanente. O Conselho da Diáspora Portuguesa deveria funcionar como uma ponte entre o solo lusitano e a lusa gente espalhada por outros solos...

O Conselho da Diáspora Portuguesa, argumenta o Fidalgo, deveria ser uma espécie de galeria de talentos nacionais desenvolvidos no espaço internacional, permitindo, em tempos de (prometida!) prosperidade vindoura, a captação desses mesmos talentos de volta a Portugal. A Conselho da Diáspora Portuguesa seria uma incubadora de méritos e um catalisador de ligações socioemocionais para com o país que ficou para trás...

Mas o Conselho da Diáspora Portuguesa tem pouco, ou mesmo nada, de tudo isto... O Conselho da Diáspora Portuguesa, pelo menos como foi apresentado, é antes uma Agência de Publicidade e Lobbying Portuguesa que se quer fazer valer dos que alcançaram sucesso lá fora, para projectar Portugal lá fora. O Conselho da Diáspora Portuguesa almeja capitalizar uma mensagem de um país dinâmico e moderno, usando para isso os que estão lá fora???

Mas então não é esse o papel do Ministério dos Negócios Estrangeiros, por exemplo, através do trabalho da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas? Não é esse, de resto, o papel do Presidente da República? Ou até dessa função de Estado o Sr. Cavaco Silva se quer demitir passando a um, muito funcional, vazio de funções reais e substanciais?

O Conselho da Diáspora Portuguesa quer promover Portugal através dos que não vivem em Portugal? Portanto voltamos ao mesmo discurso, meio-parolo meio-idiota, de achar que quem vai para fora se torna, como que por magia, extraordinário. Continuamos a insistir na ideia que o mérito nasce espontaneamente, isto é cogumeliza-se, apenas e só por uma pessoa decidir migrar!

E não se entenda aqui qualquer tipo de preconceito para com o migrante luso. O Fidalgo não só conhece imensa gente migrada de imenso valor, como pensa juntar-se aos estão "por fora", mas estas lógicas de achar que o que está fora é que serve para fazer lobbying e promover o país parecem-me distorcidas... Quem está dentro pode ter o mesmo, ou mesmo mais impacto "lá fora", desde que lhe sejam dadas oportunidades para tal! É assim tão complicado perceber isto?

O Conselho da Diáspora Portuguesa recupera, de resto, a dinâmica que levou à escolha do Ministro da Economia, até então um académico no Canadá... O Conselho da Diáspora Portuguesa não quer servir a Diáspora Portuguesa, que entrou numa fase nova e diferente da ocorrida nas décadas de 1960-1980, mas quer antes servir-se dessa mesma Diáspora. Não se provê algo, sorve-se alguém...

Quer que as tais Oportunidades causadas pelo Desemprego, segundo palavras proféticas do Ministro com a Licenciatura mais rápida do Espaço de Bolonha, sejam capitalizadas pelo mesmo país que não soube capitalizar os méritos de uma geração que não escolhe ir para fora, mas que é antes empurrada, se não mesmo pontapeada, a ir para outros portos... Resumindo: O Conselho da Diáspora Portuguesa é bonito em nome, mas feio em intenções e forma!

E o Fidalgo por aqui se fica (com o comentário), enquanto se prepara para ir (para outras paragens)...


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