Manual da Greve para Totós

O Fidalgo foi apanhado de surpresa, esta manhã, por mais uma das habituais paralisações parciais da CP. Os sindicatos (verdadeiros profissionais da greve) voltaram a convocar uma paralisação que tem pouco de nova, de impactante e de relevante... Exceptuando, obviamente, a irritação e frustração geral que o sucessão incrível deste tipo de eventos na CP causa nos utilizadores dos serviços da CP.

Mas a Greve, Senhores dos Sindicatos, não é nada daquilo que têm feito! O real sentido da greve está muito longe das acções, meio patetas e meio ocas, que têm feito ao longo do ano... Adoraria que se fizesse uma contagem dos dias de serviço "menos normal" que a CP teve em 2012. Mas vamos lá então explicar o modus operandis e o sentido da greve.

A greve tem um único objectivo: dotar os trabalhadores de um trunfo negocial aquando de uma ronda de conversações com os patrões. Esse trunfo advém, nos primórdios da greve, do facto de esta ser uma Raridade e por isso causar um real impacto. A Raridade destes fenómenos levava os patrões a uma incapacidade de resposta adequada, assumindo que os meios de produção estão, de facto, do lado de quem produz e por isso ouvir, quem produz, é uma necessidade de quem ordena.

A greve pode ainda funcionar, quando não pelo factor Raridade, pelo factor Impacto! Uma greve bem feita tem qualquer coisa de grandioso, quase como uma produção da Broadway. Uma greve, feita à séria, tem que ser algo de magnânimo que realmente paralisa o serviço em causa e que, paralelamente, leva os utilizadores a questionarem-se sobre o motivo da greve e, se tudo correr bem, a darem o seu apoio aos grevistas. É isto! Nada mais simples...

Ora as greves, se é que lhe devemos chamar isto, dos Sindicatos da CP (gente profissionalizada em grevizar o trabalho) não têm Raridade nem Impacto e, curiosamente, têm levado a que uma parte muito significativa dos utilizadores da CP esteja contra os grevistas... Isto porque os grevistas mais parece que brincam aos feriados, do que fazem greves sérias e condignas...

As greves da CP levam a um afastamento dos utilizadores, naquele que é o único país da União Europeia que viu uma redução drástica dos utilizadores de transportes ferroviários (a tendência dos países da Civilidade Europeia foi para o incremento ou manutenção do número de utilizadores).

As greves da CP criam apenas um problema: desconfiança do utilizador para com o promotor do serviço, que sem utilizadores terá (a curto-prazo) que pensar em dispensar trabalhadores. Os mesmos trabalhadores que agora se entretêm a brincar aos grevistas... Os mesmos trabalhadores que, não raras vezes, ficam sem resposta perante a pergunta "Qual o motivo desta greve"! Ou isso, ou respondem com o chavão "Porque Eles tiram tudo"...

As greves da CP obrigarão a empresa, em breve trecho, a ter que rever o seu slogan de "Conte Connosco" para um "Conte [às vezes] Connosco", porque é impossível contar com um serviço que falha mais do que cumpre. Na mesma senda o slogan "Próxima paragem: Mudar a sua vida" deveria ser actualizado para um "Próxima Paragem: Greve (e se der Mudaremos a sua vida)".

As greves da CP, que de Greve pouco têm, mostram que não é apenas o Governo, os tais Eles, que não sabe negociar... Porque impor condições que, se não cumpridas, se traduzem num sequência insana de grevinhas e grevetas mal organizadas tem pouco de diplomático e nada de negocial... E tenho dito! O vosso querido, e pouco grevista, Fidalgo!


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