É exactamente assim que não se faz Sr. Barroso!

O final da semana trouxe vários pequenos acontecimentos, muitos dos quais centrados mais no dicere do que no facere. Nos últimos tempos o Fidalgo tem feito algumas apresentações/comunicações/exposições sobre a temática do despertar de vários nacionalismos no espaço Europeu, que transcende a União Europeia em geografia e em dimensão civilizacional, e por isso escrever sobre notícias com e/ou da Escócia é uma boa forma de fechar a semana.

A Câmara dos Lordes do Parlamento Britânico pediu um parecer às Instituições Europeias sobre quais as consequências para a Escócia caso o referendo se realizasse, a ocorrência do mesmo ainda não passa de uma probabilidade, e caso o "Sim", queremos ser independentes, vença! A União Europeia, na voz de Durão Barroso, diz que a Escócia fica de fora da União Europeia se esta se independentizar.

A resposta, na verdade, tem tão pouco de sagaz como de nova. Durão Barroso já dissera antes aos Catalães que uma transformação da região em Estado Soberano, levaria a uma expulsão do (entretanto formado) novo Estado da União Europeia. Uma Catalunha independente teria que negociar a sua admissão na União Europeia e, de igual modo, uma Escócia independente terá que sair para voltar a entrar.

Isto claro assumindo que a Escócia, e já agora a Catalunha, no momento após a sua independência e constituição enquanto Estado soberano quererá voltar para a União Europeia. Barroso tem, por vezes, em demasiada conta o poder de atractividade da União Europeia. Mas e se "expulsar compulsivamente" a Escócia e a Catalunha não for uma punição mas um prémio? Nesse cenário de que valem estas ameaças (seguramente) vazias?

A União Europeia não gosta de Estado pequenos, isso é notório, e muito menos acha engraçado o cenário de uma pulverização de autonomias e soberanias no seu espaço sociopolítico. Mas a realidade parece empenhada em querer contrariar os "gostos" dos líderes da União. A União Europeia mostra, igualmente, uma notória (e indesculpável) impreparação para lidar com este tipo de fenómenos nacionalistas.

Um dos elementos centrais na construção de espaços nacionais com potencial política é a percepção de ameaças. Ora somar à ameaça óbvia, representada pela Austeridade insana, uma ameaça clara, de uma União Europeia pouco dialogante e nada diplomática, é dar lastro a que estes projectos nacionais ganhem consistência e se cristalizem mais rapidamente. Durão Barroso quer dissuadir pelo medo, mas pelo medo está apenas a fomentar (e a fermentar!) o bolo dos nacionalismos!

O único lado positivo, em tudo isto, é ver como Durão Barroso é consistente nas suas palavras. O único lado positivo é ver como mantém as suas ideias, apesar de ser sinal de inteligência  a capacidade de se assumir erros e a capacidade de adaptação perante o que está incorrecto. O único lado positivo é perceber que Durão Barroso não se perde nas suas entrevistas, ao contrário do pobre Jean-Claude Juncker (Presidente do Eurogrupo) a quem o barulho vai baralhando as ideias...


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