2012, o Anno Mutus de Cavaco Silva

Com o aproximar do final do ano começam a surgir por todo o lado, verdadeiros cogumelos selvagens, revistas do ano; onde se sintetizam os eventos do ano que finda (muitas das vezes assumindo-se que os dias em falta pouco podem acrescentar, aos dias já vividos no ano em revisto). É e não é isso que o Fidalgo almeja fazer hoje.

Cavaco Silva elevou ao extremo a máxima de "O Silêncio é de Ouro". Aliás, em certa medida, o Presidente da República chamou a si o direito de ser considerado o herdeiro do Rei Midas, já que o seu silêncio tem tanto de inconveniente como o toque dourado do monarca helénico. Cavaco Silva habituou todos a uma não-presença nos momentos importantes, fazendo soar na cabeça de muita gente a questão: se é para isto para que temos um Presidente da República?

Nem sequer me atrevo a dar resposta, pelo natural enviesamento que o Fidalgo sofre por ser adepto da Coroa (e não, Monarquia não é sinónimo de Ditadura!). Cavaco Silva conseguiu esvaziar o poder do Presidente da República tornando-se numa figura obsoleta, cuja utilidade fica por desvelar em 2013.

O Presidente da República, segunda consta no 134º artigo da Constituição vigente, tem um importante poder de regulador em momentos de Emergência. E quer parecer ao Fidalgo que Emergência é a palavra que melhor define o que temos vivido em 2010-2012; de resto o Primeiro-Ministro (Passos Coelho) e o Ministro dos Negócios Estrangeiros (Paulo Portas) usam amplamente a expressão para definir o actual momento sociopolítico.

O Presidente da República não só não fala, o que por si já é tristemente revelador, quando ao falar leva-nos a pensar nos méritos (dourados, claro está) dos seus prolongados silêncios... A última dessas alturas ocorreu no final de Novembro de 2012, quando na entrega dos Prémios Gazeta o Presidente tentou ironizar com os seus próprios silêncios...

A tentativa de realizar um exercício de Ironia saudou-se num momento confrangedor de puro sofrimento, para aqueles que dominam o universo das palavras... A tentativa mostrou que não só os silêncios do Presidente são maus, como os seus não-silêncios são ainda piores. E o dilema reforça-se: para que precisamos deste Presidente da República?

E a cereja em cima do bolo chegou ontem quando o Fidalgo ouviu a mensagem de Boas Festas do casal Presidencial. Além do amadorismo em torno da produção, onde não se consegue disfarçar o desconforto provinciano do casal para com os media, o Presidente da República achou por bem terminar o vídeo dizendo: "E um 2013 tão bom quanto possível"!

Podia ter sido pior... Não se ter lembrado de "E em 2013 seja o que Deus quiser!" foi uma sorte. Mas num momento delicado como cristal, como aquele que vivemos, pedia-se ao Chefe de Estado que fosse capaz de mobilizar (já que galvanizar parece-me palavra fora do vocabulário deste Presidente!) e de unir a população. Urgia uma palavra de reconhecimento e de esperança; urgia um momento de compreensão e de alento... Urgia tudo o que não fosse um "e o que for que seja!" Porque para isso não precisamos de um Presidente da República...

Resta ver se em 2013 o Presidente ressuscita da sua letargia, qual Lázaro bíblico, ou se irá definhar ainda mais feito manjerico requeimado pelo sol... O Fidalgo retira-se, por agora!


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