Tsrantcha e Brashten: Búlgaras ou Gregas?

E hoje que o Fidalgo estava com planos para falar do que se passa no nosso jardim, à beira-mar deixado, algo inesperado fez-me mudar os planos. Os Balcãs partilham com o Cáucaso uma extraordinária densidade étnica que, seguindo as teses etno-simbolistas, levam a uma construção da Identidade multi-nível e, consequentemente, a uma densificação da complexidade das dinâmicas políticas.

Os Balcãs, tal como o Cáucaso, são conhecidos mais parte do que pelo todo. No Cáucaso é a Chechénia que faz "soar campainhas" e nos Balcãs será, claramente, o caso do Kosovo. Mas nas duas regiões existem muitas outras questões etno-nacionais que merecem um olhar mais atento e cuidadoso; até porque ambas as regiões se reclamam (justamente) como parte da Europa e podem levar ao degenerar de conflitos... A I Grande Guerra começa com um incidente nos Balcãs...

Mas vamos à notícia: duas aldeias búlgaras Tsrantcha e Brashten sonham por estes dias ser "anexadas" à vizinha Grécia. Em Sofia a táctica adoptada tem sido a de ignorar e silenciar o problema; algo de resto muito Europeu... Mas as duas pequenas aldeias, que se situam numa zona de fronteira entre os dois estados, têm conseguido fazer passar a sua mensagem.

O desejo das duas aldeias é apenas mais um sinal de que muito continua por fazer e por estudar nos Balcãs, strictu sensu, e no espaço pós-soviético, lato sensu, no que concerne à construção de noções inclusivas e mais amplas de identidade. Algo, de resto, que o Fidalgo tem tentado fazer, mas que os Lordes da Investigação em Portugal consideram secundário...

Se somarmos o desejo destas duas aldeias em "trocar" de país; ao fracasso do Kosovo ser amplamente reconhecido pela Comunidade Internacional; ao reacender da tensão na Transnítria (Moldova); ao escalar da pressão diplomática Macedónia-Grécia-Bulgária (em torno do nome da primeira) conseguimos ter um vislumbre de como muito está por fazer... Muito está por estudar...

O desejo de Tsranthca e Brashten parece confirmar as perspectivas de autores como Henry Hale que asseveram que em situação de dupla perda (a Bulgária e a Grécia atravessam ambas um mau momento económico) os povos tendem a preferir perder junto aos seus similares. Se as duas aldeias não se sentem parte do Nós Búlgaro e não "ganham" por fazer parte do espaço deste, é natural que queiram voltar ao "Nós" grego (do qual fazem parte mas) no qual também não ganharão nada mais.

Quais as soluções possíveis? Será a Autonomia Não-Territorial um caminho? Ou a Autonomia Nacional-Cultural é mais segura? Ou ambas são o mesmo e ambas sem garantias? O Fidalgo até que tem as suas ideias sobre isto mas, só porque sim, não as vai partilhar hoje... Os Lordes da Investigação, vulgo FCT, que analisem estas questões... Não são Eles mentes brilhantes? Força!


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