Que a batalha [Amigável?] comece!

É absolutamente revelador do espírito que se vive no seio da União Europeia o modo, nada unionista, como os vários Chefes de Estado têm abordado a questão do novo Orçamento Comunitário. Poucas são, na verdade, as novidades trazidas neste novo episódio da tragicomédia que é a vida da União Europeia.

Hollande, Merkel e Monti entre outros já deram a entender que esta cimeira será vital para a continuidade do projecto Europeu. E não sendo errado assumir tal perspectiva, não é menos mentira que nos últimos três anos temos assistido a uma parada de Cimeiras Históricas, que na verdade redundam em fracassos cíclicos que, numa perspectiva prática, pouco ou nada resolvem.

A Guerra dos Subsídios também já começou. O Cheque Inglês não é negociável  anunciou David Cameron antes da abertura das negociações, sabendo que Hollande não está disposto a cortes nos apoios da PAC que muito têm beneficiado Paris e Berlim. A mesma PAC que Cavaco Silva, então Primeiro-Ministro, negociou tão alegremente e que nos impediu de olhar para a Agricultura e a Indústria, áreas que agora Cavaco Silva, Presidente da República, defende tão assertivamente.

Do lado dos países vindos do Espaço Pós-Soviético os cortes (que poucos Chefes de Estado e Chefes de Governo defendem) não podem ser feitos nos Fundos de Coesão, pois que são estes fundos a causa maior da Adesão ao grupo da União. A Eslovénia, a Bulgária, a Hungria e a Polónia contam-se entre as vozes mais activas contra os cortes pela via dos Fundos da Coesão.

Portugal, tal como a Grécia e o Chipre, defendem também a necessidade de não se cortar nos Fundos da Coesão. Curiosamente, Paulo Portas e Cavaco Silva mostraram-se contra os cortes propostos de 17%, juntando a sua voz a um coro maior que diz ser injusto ter austeridade transnacional Europeia, em cima da austeridade troikiana Nacional. Passos Coelho, que queria dizer não mas não consegue levantar a voz contra a Imperatriz Merkel, prefere dizer que vai para a Cimeira com flexibilidade negocial...

A Europa da União, de resto, dividiu-se em dois grandes blocos que se institucionalizaram e tudo. De um lado os Amigos dos Fundos de Coesão, onde se contam os países mais afectados pela Crise das Dívidas Soberanas e mais destroçados pelo Austero-Autoritarismo. Neste bloco, liderado por Portugal e pela Polónia, contam-se ainda a Bulgária, a Estónia, a Grécia, a Hungria, a Lituânia, a Letónia, a Roménia, a Eslovénia, a Eslováquia e Malta.

Do outro lado, com os seus ratings ainda em níveis aceitáveis, surgiu o bloco dos Amigos para um Gasto mais Eficaz. A Alemanha, a Áustria, a Finlândia, a França, a (surpresa!) Itália, os Países Baixos e a Suécia optam por uma defesa de cortes que obriguem a uma racionalização dos fundos comunitários, ou seja, optam por uma continuação do caminho da Austeridade. A Comissão Europeia, com o seu tão prestimoso líder, já mostraram uma natural inclinação por esta segunda facção.

A Croácia, que entra para a família da União em Julho de 2013, e que tem-se reformado e transformado por via das transferências de capital oriundos dos Fundos da Coesão, optou por se juntar aos Amigos dos Fundos de Coesão. No meio da Batalle Royale dos blocos de Amigos o Reino Unido, a Irlanda (claro está!) a República Checa (outra vez!), a Espanha e a Dinamarca decidiram ficar em terreno neutro, observando os argumentos esgrimidos pelos dois Euro-gigantones.

E enquanto a Europa da União se cinde em grupos, facções e círculos, a Europa vai perdendo espaço no mundo. Ou ninguém estranhou a não-presença de Ashton no seio da crise Israel-o-Palestiniana? A ONU saudou os méritos dos esforços diplomáticos dos EUA, do Egipto e da Liga Árabe; a U.E., ao que parece, já nem para "menino das águas" serve na cena internacional... E enquanto não se arrumar a casa, as coisas não podem mesmo mudar...


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