A República e as Nações: França, France, Francia, Frankreich!

Nas últimas duas semanas o Fidalgo ministrou duas Aulas Abertas sobre a questão da re-emergência dos "Nacionalismos em Tempo de Crise" no espaço Europeu que, esclareço desde já o leitor, transcende o espaço da União Europeia. Para não maçar o leitor com um desfile de nacionalismos infindável centrar-se-à hoje o Fidalgo no caso dos nacionalismos existentes no seio da República Francesa.

No seio do país que tem por tradição iniciar profundas transformações no espaço civilizacional europeu (do fim do Absolutismo, ao Imperialismo Bonapartista, ao Republicanismo Jacobino, ao Maio de 1968) contam-se pelo menos três movimentos nacionalistas. A Bretanha, a Alsácia-Lorena e a Córsega.

Bretanha! As marchas dos Bretões têm-se centrado numa luta pela defesa dos direitos educacionais e culturais alcançados, algo que poderá ser ameaçado pelos cortes que Hollande terá forçosamente de fazer. Ora cortar nos benefícios de uma minoria poderá parecer o movimento mais correcto para a maioria da população, mas fazê-lo poderá levar o movimento Bretão a politizar-se e a pedir por uma Autonomia política aprofundada. Os pedidos de Soberania na Bretanha são para já uma miragem, mas não podem ser excluídos do cenário!

Alsácia-Lorena! É, provavelmente, uma das regiões que mais vezes trocou de Senhorio no século XX, gravitando entre as mãos Germânicas e o controlo Gaulês. Os movimentos sociais na Alsácia-Lorena têm perdido força nos últimos anos devido a baixas taxas de natalidade e a um "afrancesamento" daquele que era o mais germânico dos distritos da República Francesa. Mas a incerteza económica interna e a pujança da Alemanha podem re-despertar desejos de revanchismo histórico.

Córsega! A ilha de Córsega foi, recentemente, palco de uma série de actos de violência que o governo central atribuiu às máfias e aos separatistas. Não estando errado o diagnóstico, o mesmo pesa por ser injusto ao juntar máfias e separatistas Córsegos como se fossem a mesma coisa. A Córsega desde, pelo menos, 1923 que tenta voltar para "dentro" da vizinha Itália.

A força do movimento independentista na Córsega atesta-se, por exemplo, no facto de nas últimas eleições regionais (em 2010) o Partido da Nação Córsega ter eleito 11 deputados na Assembleia Regional, a que se devem somar os 4 deputados eleitos pelo partido Córsega Livre. Contas feitas, numa Assembleia que conta com 51 lugares os Nacionalistas contam já com 15 deputados eleitos. E as sondagens não mostram estes partidos perderem vigor... Au contraire mes chers amis!

Enquanto a União Europeia se vai entretendo com as marchas na Catalunha e com o referendo na Escócia, a Europa das Nações vai continuando a trilhar o seu caminho. Em alturas de transformação e ampliação de incertezas como as que vivemos a Nação tende a confortar os seus nacionais, especialmente num momento em que o Estado parece atacar os cidadãos! Ignorar a força do nacionalismo é um risco que a Europa não deve correr... Ou então avizinham-se muitas surpresas para quem governa...


Comments