União Europeia: Nobel da Paz 2012! E esta?

A manhã começou com rumores que o Fidalgo considerou interessantes. O Le Figaro anunciava que a União Europeia era o mais forte candidato a ganhar o galardão de Nobel da Paz 2012. Ficou o Fidalgo com a ideia de que alguém no Le Figaro teria confundido brandy com café com leite mas não: o anúncio chegou menos de duas horas depois.

Primeiro pensamento, com um Nobel da Paz no Curriculum podemos ter o risco de ver alguns políticos a pedirem equivalência em Estudos da Paz. Ao espanto, que (seguramente) percorreu os cidadãos de toda a Comunidade Europeia, seguiu-se a necessidade imperiosa de ouvir a argumentação da Real Academia Sueca e a obrigação moral de concordar parcialmente com a decisão desta. Surpreso o leitor? Não vale a pena, que eu explico tudo.

De facto, tal como se argumentou, não podemos minorar o importantíssimo papel da União Europeia, neta da CECA, na estabilização da vida política, diplomática e social da Europa. Não podemos negar que a União Europeia foi capaz de alcançar um nível de entendimento inter-estados que nenhuma outra Organização Internacional conseguiu.

A ASEAN até tem feito um trabalho interessante no Sudeste Asiático só que conta apenas com 10 membros e 4 "satélites" (Índia, China, Japão e Austrália) e não tem a profundidade de interacções da UE, com os seus 27 membros (28 em breve, com a entrada da Croácia) e mais de 10 satélites (Islândia, Montenegro, Macedónia, Sérvia, Turquia, Ucrânia, Bielorrússia, Moldova, Arménia, Azerbaijão, Geórgia).

A APEC não passa de uma organização Económica. A União Africana está longe sequer de ser comparável. O MERCOSUL não funciona, como aliás o dizem todos os seus intervenientes. E na América do Norte a NAFTA conta apenas com três membros e resume-se à esfera económico-financeira. E a Liga Árabe tem estado longe de corresponder às elevadas expectativas que sobre ela recaíam.

Não podemos menosprezar o papel crucial da União Europeia na aceleração da construção de uma ideia de Civilidade Europeia. É injusto que por um mau momento, que começou em 2008, se esqueça tudo o que ficou para trás. E não, o Fidalgo não esquece que a União Europeia tem sofrido de lentidão crónica e de dislexia ao nível do processo decisional, nos últimos anos. O Fidalgo não esquece que a União Europeia precisa reformar-se, redesenhar-se e repensar-se urgentemente!

Mas o Fidalgo também não esquece, não o deve fazer, que a União tem méritos que merecem ser louvados. E é isso que o Nobel da Paz 2012 faz. E, desculpem a acidez, por comparação é mais justo o laureado de 2012 do que o laureado de 2009. O Nobel da Paz é merecido pelo legado mas, e estamos no reino da opinião, talvez venha um pouco tarde e fora de contexto...

O Fidalgo fica, por outro lado, com a sensação que o Nobel da Paz atribuído à União Europeia é uma espécie de Globo de Ouro de Mérito e Excelência. Uma palmadinha nas costas por tudo o que se fez antes de uma, cada vez menos improvável, implosão. Ao contrário da Liga das Nações que ganhou três Prémios Nobel da Paz no momento pós-fundacional, em 1919 (Thomas Woodrow Wilson, Fundador), 1920 (Leon Victor Bourgeois, Presidente do Conselho da Liga) e 1921 (Karl Branting, Delegado no Conselho da Liga), a União Europeia ganha um prémio no momento em que parece estar em colapso.

Igualmente estranho foi o segundo argumento usado pela Academia Real Sueca, esse sim muito muito muito criticável. Atribuir um Nobel da Paz como estímulo a que se resolva a Crise das Dívidas Soberanas. E porque razão a Academia Sueca se imiscui de assuntos que em nada lhe dizem respeito? É esta a forma do Norte, que olha para os PIIGS do Sul, dizer diplomaticamente: estamos convosco!?

A atribuição do Nobel da Paz levantará, curiosamente, nos próximos dias, uma guerra de poleiro no seio da União. Quem o vai receber? Durão Barroso, como Presidente da Comissão Europeia? Herman Van Rompuy, como Presidente do Conselho Europeu? Martin Schulz, como Presidente do Parlamento Europeu? Ou Catherine Ashton, como Alta Representante dos Negócios Estrangeiros da União Europeia? Ou Angela Merkel, como Imperatriz Auto Coroada?

E é neste ponto que o Fidalgo se retira!


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