Mas existe ou não um Memorando de Entendimento?

Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia (um dos vértices da Troika) terá dito que as medidas de Austeridade são da responsabilidade exclusiva dos governos que as decidem e implementam... Nada que, uns meses antes, Christine Lagarde, Directora do Fundo Monetário Internacional (outro vértice da Troika), não tivesse dito...

Mas então o Fidalgo fica com dúvidas! O que raio (desculpem o linguajar!) é que ficou acordado no famoso Memorando de Entendimento que regula a nossa vida desde que pedimos o resgate? Afinal o que ficou impresso nos papéis assinados com tanta pompa? Se não existem responsabilidades de dois vértices da Troika, que assim deixa de ser trilateral, porque se chama ao documento de Entendimento? Qual o real papel da Comissão Europeia e do FMI em tudo isto???

Ora quer parecer ao Fidalgo que aquilo que o país pediu não foi um resgate, mas antes um Crédito Estatal com Penhor de Aplicação! É que mais parece que não estamos perante um resgate da Comunidade Internacional, mas antes perante uma concessão de crédito que terá que ser pago sem quaisquer outras imposições... As tais medidas que teriam sido acordadas com os Três da Troika afinal não foram acordadas? É isso? Pagar é o que mais importa, é basicamente isso que diz Durão Barroso?

É impressão minha ou o FMI continua a brincar com as palavras, para não dizer o que deve ser dito: Que a receita do FMI não funciona, como aliás muitos economistas, analistas e especialistas avisaram. Que os modelos de engenharia Económica-Financeira desprovidos de sensibilidade humana, desligados da complexidade da realidade, não conduzem ao enriquecimento e à estabilização macroeconómica, mas antes ao embrutecimento e à desestabilização sociopolítica.

É impressão minha, ou o FMI devia ganhar coragem para assumir o erro, de um programa que (num dia) acordou mas que (no dia seguinte) afinal foi apenas "desenhado" pelos Governos resgatados?! Dizer, como o fizeram no início de Setembro, que calcularam mal o impacto da Austeridade não chega! É parco e pouco confortante dizerem que afinal o resultado foi pior do que o projectado por modelos aritméticos, que esquecem que a Incerteza é a única certeza em momentos de transição e transformação (e disso o Fidalgo até que percebe alguma coisa!).

Dizer que errou seria um passo de gigante para a (necessária) credibilização do FMI que surge, cada vez mais, como um monstro predatório e não como o Regulador das Divisas Internacionais que deveria ser. O FMI em vez de ser a chave das soluções é cada vez mais a Caixa de Pandora de muitos estados... Dizer que errou em vez de sacudir a água do capote, ao estilo Durão Barroso, seria muito salutar para o FMI de Lagarde. Mas não estou para acreditar em milagres nos dias que correm...

Se os pedidos de mea culpa não vão chegar, pelo menos gostaria de ver os Senhores da Troika a não se desligarem do Memorando que Entenderam ser a fórmula mágica para colocar as contas de Portugal em ordem e garantir aos credores o pagamento do empréstimo com lucros, muitos dos quais imerecidos... Deixemos de jogar ao "a culpa não é minha" que isso é feio, muito feio...


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