Leitura (primária) das eleições na Geórgia!

Depois de alguns posts sucessivos a debruçar-me sobre a situação nacional, acho que vai sendo de o Fidalgo mudar de paragens e olhar para outros mundos. E, por defeito de formação e de profissão, no meu mundo Portugal não faz fronteira com Espanha mas com o Cáucaso.

A Geórgia foi hoje a votos numas eleições Parlamentares que, diziam os analistas ocidentais, são primordiais para aferir da robustez da Democracia Georgiana. As eleições de hoje, afirmam alguns, poderão prover dados que confirmaram se este estado do Cáucaso, candidato à OTAN e "amiguinho" (já não se diz vassalo nos dias que correm) dos EUA, ainda se encontra em Transição, ou se já entrou no delicado e mais complexo período de Consolidação.

Ainda é cedo para ter certezas. Para já sabe-se que que O Sonho Georgiano (nome do maior partido da oposição) venceu a corrida em Tblissi (a capital), mas no cômputo global ambos os partidos clamam vitória. Os números vão levar tempo a ser conhecidos, validados e aceites por todas as forças políticas envolvidas. Mas o que fica de mais interessante, numa primeira leitura, são pequenos sinais simbólicos que me foram chamando a atenção.

Por um lado, Mikhail Saakashvili, Presidente da Geórgia, que se afirma pró-Ocidente e pró-Democracia usou, como nunca antes na curta História da Geórgia pós-soviética, o trunfo nacionalista, roçando mesmo a xenofobia, para assustar o eleitorado especialmente das zonas rurais. Saakashvili, de resto, desde que chegou ao poder, pela via da Revolução das Rosas de Novembro de 2003, que tem usado a Nação como forma de manter o seu controlo sobre o aparelho de Estado!

Depois de em Agosto de 2008 ter perdido a Guerra dos Cinco Dias contra a Rússia e de em Abril de 2009 ter enfrentado protestos gigantescos que pediam pela sua demissão, o Presidente da Geórgia percebeu que invocar o Fantasma do Norte (a Rússia de Putin, entenda-se) lhe podia render votos... E ao que parece a aposta surtiu efeito onde se esperava.

Por outro lado, Bidzina Ivanishvili usou como trunfo a sua estória de sucesso pessoal, não fosse este o homem mais rico da Geórgia (apesar de inúmeros relatórios e artigos levantarem dúvidas sobre a legalidade de todos os negócios de Ivanishvili). O líder da oposição, reunida no Sonho Georgiano, almeja destronar Saakashvili e, alega, iniciar um período de verdadeira democratização do país.

Curiosamente recusou-se a exercer o seu direito de voto nas eleições de hoje. Apesar da recusa ser um sinal de protesto ao regime de Saakashvili, o que Ivanishvili  colocou em causa ao não votar foi antes todo o sistema. Ora se o líder da oposição não acredita no Voto, mas quer pelo voto chegar ao poder algo de esquizofrénico se passa! Não podemos acreditar apenas no regime se vencermos... Tal como em Portugal certas personalidades não podem ser Oposição e Governo ao mesmo tempo.

As eleições da Geórgia são importantes, dizem certos especialistas, porque testam o ambiente democrático no Cáucaso Sul (ou Cáucaso independentizado). Na verdade isso parece-me uma hipérbole desnecessária, porque o Azerbaijão está longe de ser democrático, por muitas paradas eleitorais que tenha. E a força da democracia na Arménia em pouco depende do que acontecer hoje na Geórgia. Agora que as eleições de hoje terão influência no processo da sindependências unilaterais da Abkhazia e da Ossétia do Sul disso tenho poucas dúvidas...

Mas para já, enquanto os dados não estão todos na mesa, fico-me por aqui!


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